Inventário de Campo

Se eu fosse abrir o peito, me faltariam palavras
Pois muito aqui habito neste simplório rincão
Vi a chegada do homem demarcando território
Vi também o ofertório desta terra em comunhão

Eu vi nascer o gaúcho e as botas de garrão
O rodado da carreta, choramingando seu fim
Vi nascer o povoado quinchado de santa-fé
No tempo que eu fui liberto, mas prisioneiro de mim

Eu fui toca de mulita na intenção da rodada
Da petiça colorada, que o mulato enfrenou
Fui catre para um romance, num desejo proibido
Que por ser tão escondido, nem mesmo a lua clareou

Fui parador de rodeio num canto de invernada
Fui cama para um pealo num dia de castração
Fui pasto seco no inverno, morto pela geada
Que renasce com o viço, na chegada do verão

Senhores eu sou o campo, e este é meu inventário
Um relato de saudade do que fui e do que sou
Peço que guardem pra sempre no germen desta semente
Este relato de campo deste chão que vos criou

Eu fui toca de mulita na intenção da rodada
Da petiça colorada, que o mulato enfrenou
Fui catre para um romance, num desejo proibido
Que por ser tão escondido, nem mesmo a lua
Clareou



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