Filhos da Guerra

Inocência corrompida com uma arma na mão
Infância violada como invólucro de munição

Gosto de pólvora no pão
Ouvem o arrebentamento por cima do alçapão

Bombardeiros largam bombas como moscas cagão ovos
Armas dos mais velhos são herança pros mais novos

Defendendo a família sem treino militar
Soldado de menor com licença pra matar

Aqui não há brincadeiras já nascem preparados
A jogar ao pé coxinho dentro de campos minados

Os putos nos conflitos marcados pra eternidade
Lutando em guerras de homens que não têm piedade

Que mataram violarão fazendo crescer mais cedo
E no dicionário torturaram todo medo

Imagina um assassino na pele de um miúdo
A lutar pela vida como o futuro desse mundo

Filhos da guerra onde o ódio que pariu
Os brinquedos era granada e fuzil
Ambiente hostil esperança sumiu
Sobrevivendo no inferno que até o diabo fugiu

O tempo não é caridoso
Vivendo precocemente aos 30 já é idoso

A morte já não o deixa nervoso
Linha de frente num combate impiedoso

No céu o rastro de fogo no chão é só escombro
Segundo desatento um tiro desfez seu ombro

Muito sangue muito choro adrenalina toma conta
E pra os poderosos é só mais um pra conta

Estatística sem ética só corpos e uma etiqueta
Acumulados e jogados numa sarjeta

Se fosse russa a roleta com uma bala no tambor
Onde só é disparada na cabeça do sofredor

O progresso é perdedor
Onde tamos regressando a heras medievais

Pra quem senti esse terror
Espero um dia que encontrem sua paz

Filhos da guerra onde o ódio que pariu
Os brinquedos era granada e fuzil
Ambiente hostil esperança sumiu
Sobrevivendo no inferno que até o diabo fugiu

A guerra, que aflige com os seus esquadrões o Mundo
É o tipo perfeito do erro da filosofia
A guerra, como tudo humano, quer alterar

Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito
E alterar depressa
Mas a guerra inflige a morte
E a morte é o desprezo do Universo por nós

Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer-alterar

Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs
Tudo é orgulho e inconsciência
Tudo é querer mexer-se, fazer coisas, deixar rasto



Credits
Writer(s): Pedro Lira
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