No dia da comunhão solene

No dia da comunhão solene
Fui de camisa engomada
Calças de terilene
E a garganta apertada

O velho alcino barbeiro
Levou-me o cabelo à faca
Fez-me um corte à francesa
Com cheirinho a talco e laca

Que domingo deprimente
Eu ali de fato e laço
A sorrir para o retrato
Com cartilha e fita no braço

O retrato que aqui vedes
Na cômoda da minha avó
Sou eu, sou eu
No dia da comunhão solene

O meu pai com o seu olhar
A ralhar na catedral
Não fosse eu destoar
E manchar o ritual

Com medo de fazer errado
Concentrei-me até ao fim
Para não trair o ar enlevado
Que a família tinha por mim

Mas quando tudo acabou
Corri a casa disparado
E ao vestir a velha roupa
Fiquei logo confortado

O retrato que aqui vedes
Na cômoda da minha avó
Sou eu, sou eu
No dia da comunhão solene



Credits
Writer(s): Carlos Tê
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