Testamento

Você que só ganha pra juntar
O que é que há, diz pra mim, o que é que há
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar

Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão
É fogo, irmão

Pois é, amigo, como se dizia antigamente
O buraco é mais embaixo
E você com todo o seu baú
Vai ficar por lá na mais completa e total solidão
Pensando à beça que não levou nada
Nadinha, nadinha do que juntou
Só o seu terno de cerimônia

Você que só faz usufruir
E tem mulher pra usar ou pra exibir
Você vai ver um dia
Em que toca você foi bulir

A mulher foi feita
Pro amor e pro perdão
Cai nessa não, cai nessa não

Pois é, amigo, você que está aí
Com a boneca do seu lado
Crente que é o amo e senhor do material
Pode estar redondamente enganado
No mais das vezes, ela anda distante
Num mundo lírico e confuso
Cheio de aventura e magia
E você nem sequer toca a sua alma

Você que não para pra pensar
Que o tempo é curto e não para de passar
Você vai ver um dia, que remorso
Como é bom parar

Ver um sol se pôr
Ou ver o sol raiar
E desligar, e desligar

Mas você, que esperança
Bolsa, títulos, capital de giro
Public relations (e tome gravata)
Commodities, CDBs, fundos de ações (e tome gravata)
O amor sem paixão, o corpo sem alma (tome gravata)
E lá um belo dia, o enfarte
Ou, pior ainda, o psiquiatra

Você que não gosta de gostar
Pra não sofrer, não sorrir e não chorar
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar

Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão
É fogo, irmão

Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão
É fogo, irmão



Credits
Writer(s): Antonio Pecci Filho, Marcus Vinicius Da Cruz De Mello Moraes
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