Cavalo Bom Vai pro Céu

Ficou uma cruz cravada
E um silêncio de arreio
Nem rangido, nem coscorro
Na mordedura do freio

Ficaram estribos juntos
Xergão de carda, suado
E uma silhueta estendida
Da dimensão do gateado
Quem foi potro em primavera
Madrugando minhas encilhas
Já foi barco de alma leve
Navegando essas coxilhas

Cascos de Lua crescente
Pro céu grande das flechilhas
Há de encontrar invernada
Rincão, querência ou potreiro

Lugar que o Deus desta pampa
Reserva pra os seus campeiros

Quem sabe o céu te espere
Com garras de corvos negros
Ou intempéries de chuvas
Trocando a dor por sossegos

Lavando um lombo sem viço
Sem forquilha, nem pelego
Quem já foi flor nos setembro
Tendo o Rio Grande na praça

Vai matar campo e flechilha
Pra consumir sua carcaça
Quem soube morrer de velho
Destino bom de cavalo
Numa várzea de Sol posto
Entrega-se qual regalo

As mãos certeiras do tempo
Que nunca erra um pealo
Só quem teve um gateado
Conhece as coisas que digo

Não mate ou venda um cavalo
Que estás traindo um amigo

Quem foi terra sem cobrá-la
Retorna agora pra ela
Querência da minha encilha
Fechou pra sempre a cancela

Entregando os olhos pampas
A uma estrela sentinela
Rogando a sombra da cruz
Boto no peito o chapéu

Reverencio pra terra
Cavalo bom vai pro céu



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