Três Apitos

Quando o apito
Da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você

Mas você anda
Sem dúvida, bem zangada
Está interessada
Em fingir que não me vê

Você que atende ao apito
De uma chaminé de barro
Por que não atende ao grito
Tão aflito da buzina do meu carro?

Você no inverno
Sem meias, vai pro trabalho
Não faz fé com agasalho
Nem no frio você crê

Mas você é mesmo
Artigo que não se imita
Quando a fábrica apita
Faz reclame de você

Nos meus olhos você lê
Que eu sofro cruelmente
Com ciúmes do gerente
Impertinente que dá ordens a você

Que sou do sereno
Poeta muito soturno
Vou virar guarda-noturno
E você sabe por quê

Mas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto de um piano
Esses versos pra você

Você que atende ao apito
De uma chaminé de barro
Por que não atende ao grito
Tão aflito da buzina do meu carro?



Credits
Writer(s): Rildo Alexandre Barreto Da Hora, Martinho Da Vila, Noel Rosa
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