Saudades Mil

Diadema, dois do doze de 99
Saudades amigo Dexter, tudo bem?
Espero que sim e que esta o encontre
Na mais pura paz espiritual
E que voce esteja firme e forte
Olha, por aqui nada anda bem
A cada dia que passa as coisas ficam mais dificieis
Com a Laisla tá tudo bem
Pois ela ainda é uma criança
E não compreende as surpresas da vida
Sabe meu amigo...

É, vou responder essa carta agora, oh

Mês de janeiro, ano 2000, xadrez 509-E
Saudades mil!

Alô, alô amiga, como vai você?
Senti saudades, resolvi te escrever
Espero que esta carta te encontre numa legal
Com saúde, harmonia e tal
Eu tô por aqui na fé na paz, na correria adiantos e mais
Quase dois anos que a gente não se vê
Vira e mexe penso em você

Me lembro das festas que a gente fazia
Saía às dez da noite e só voltava no outro dia
Que barato só alegria
Lembra? Qualquer lugar a gente ía
Sempre fui considerado, você também
Lembra da Simone e da Neném?
Aquelas minas são problemas
Zueira de montão, zueira a noite inteira

Natal de 97 passei na sua casa
Muita treta vários amigos na parada
Sua irmã estava linda aquele dia
Adriana que gata, Ave-Maria
Foi da hora, Natal cabuloso
Daria o que tenho pra viver tudo de novo
Mas aí esqueci perdi tudo
Dei tiro no escuro amiga e perdi tudo

Até aquela mina que dizia me amar
Ah me esqueceu depois que eu vim pra cá
É foda, a vida é assim mesmo
Nem tudo é do jeito do modo que queremos
Infelizmente, retroceder não dá mais
Bola pra frente é assim que se faz
Jorge cantou que Charles ia voltar
E como Charles eu também, pode acreditar
Com este dia não paro de sonhar
Quero ver o morro inteiro feliz e pá

Velha camarada, obrigado pela carta
Que saudade preta rara
(Quero viver)
De cabeça erguida logo vou sair pra vida
Qualquer dia
(Eu vou te ver)

Velha camarada, obrigado pela carta
Que saudade preta rara
(Quero viver)
De cabeça erguida logo vou sair pra vida
Qualquer dia
(Eu vou te ver)

Eu recebi a carta que você mandou
Fiquei desnorteado, aí abalou
Não acredito que mataram seu marido
O Amarildo era meu amigo
Sempre chegou comigo em várias fitas
Difícil entender as surpresas da vida
Ontem tudo bem com a família inteira
Hoje um a menos parece brincadeira

Meu aliado respeitado no crime
A inveja é uma merda, conheço esse filme
Peço a Deus que vocês estejam bem
E que meu truta esteja em paz, aleluia, amém
Aí amiga hoje eu não tô legal
Afetaram o meu lado espiritual
Vi um maluquinho me olhando diferente
Com a maldade nos olhos entende?

A cabreragem tomou conta de mim
Eu tô esperto, ligeiro enfim
Quero saber o porquê daquele olhar
Eu tô na dele aí, vou enquadrar
O que ele quiser comigo eu quero em dobro
Tô no veneno, tô disposto
Aqui nessa porra é assim
O demônio te atenta, planeja seu fim

Que Deus me proteja espero que não seja nada
Mas se for topo qualquer parada
Aí amiga este lugar é o inferno
(Aí Dexter, caiu mais um no pátio interno)
Viver na paz é o que quero
Mas não aquela paz fria de um cemitério
Lâmpada para meus pés é a palavra de Deus
Senhor proteja este filho seu

Jorge cantou que Charles ia voltar
E como Charles eu também pode acreditar
Com este dia não paro de sonhar
Serei um vencedor pode apostar

E de cigarro em cigarro
Lembrança nos olhos embaça
A liberdade e dignidade são conquistadas na marra
E a saudade invade com a velocidade do tempo que passa
E aí pode crer, um dia vou estar com você

Velha camarada, obrigado pela carta
Que saudade preta rara
(Quero viver)
De cabeça erguida logo vou sair pra vida
Qualquer dia
(Eu vou te ver)

Amiga tô com saudade da quebrada
Na próxima carta me fale da rapaziada
Como vai o Romildo e o Marquinhos
O Robson, o Ediberto e o Zinho
Aí pede pra eles me escreverem
Diga que liguei pra não esquecerem
Que o cuidado é necessário
Hoje em dia o mundão tá cheio de otários

Não pensam duas pra puxar o cão
Aí já era sobe mais um irmão
Isso aí é arriscado demais
A pedra tá em alta derrubou a paz
Nóias nas esquinas provocam medo
No nosso tempo não era desse jeito
Aí amiga filme triste de ver
Violência marca registrada o que fazer

No escadão se escuta vários tiros
E logo em seguida a mãe que chora por seu filho
Roberto, que Deus o tenha mano
Quem me contou a fita foi o Luciano
Ele também tá por aqui
Me disse que na Vila agora tá assim
Quem sabe quando eu sair
Tudo já esteja bem melhor por aí

Quem sabe os irmãos um dia compreendam
Que o crime, as drogas não passam de doenças
É só cadeia, velório, destruição
Tristezas em família, só decepção
É necessário corrigir a postura
Amor, justiça é a cura
Bem acho que já falei demais
Na próxima te escrevo mais

Amiga minha, lembranças à todos
Fiquem na fé, tô orando por todos
Vê se não demora pra me responder
Tô com saudades de você

Velha camarada, obrigado pela carta
Que saudade preta rara
(Quero viver)
De cabeça erguida logo vou sair pra vida
Qualquer dia
(Eu vou te ver)

Velha camarada, obrigado pela carta
Que saudade preta rara
(Quero viver)
De cabeça erguida logo vou sair pra vida
Qualquer dia
(Eu vou te ver)

Prestigiando o violento, querendo o 100%
Mas aí, tô firmão, tô na correira, tô na paz
Moro amiga
Aí dá um beijo na Laisla
Fica na fé, o Amarildo tá firmão
Aí dona Maria, o Roberto também
Tá sentado a direita de Deus, tá ligado
Fica na fé tia
Se precisar, escreve aqui
A gente tá desse lado do muro, moro
Mas sempre tem uma voz activa aí fora, vá
É só acreditar, Deus é mais
Eu tô voltando, tô na paz
Aí, logo mais a gente se encontra no mundão



Credits
Writer(s): Cristiano Natalino, Marcos Fernandes De Omena
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