Vou Dar de Beber à Alegria

Passei ontem pela rua onde morava
A cantada e recantada Mariquinhas
E qual não é meu espanto
Olho e vejo por encanto
Outra vez lá na janela as tabuinhas

Corri e bati à porta
E até fiquei quase morta
Quando ela se abriu pelas alminhas
Pois quem veio a porta abrir e a sorrir
Era mesmo a Mariquinhas

Ai a Mariquinhas 'tá tão linda
'Tá mais gordinha, pesa 100 kg
Mas como gordura é formosura
Ela não se importa nada com isso
'Tava a comer jaquinzinhos

Eu entrei e abracei a Mariquinhas
Que me contou que um senhor de falas finas
Lhe deu a casa que é sua
Pôs o prego na rua
E correu com o tal senhor que era lingrinhas

Mandou caiar as paredes
Pôr cortinas de chita
Nas janelas tão bonitas às bolinhas
E por fora, pra chatear as vizinhas
Janelas com tabuinhas

Bem-feita
Lá na rua ficaram todas danadas
Agora já não podem deitar para lá os mirones, é claro
O que ela se havia de alimbrar, hã?
É uma ganda' camarada a Mariquinhas

Já tiraram os caixilhos às voltinhas
E a janelas já estão todas catitinhas
E pra afastar os temores
Do enguiço dos penhores
Defumou a casa toda com ervinhas

Pôs incenso das igrejas
E pra acabar com as invejas
Pôs um chifre atrás da porta às voltinhas
E na cama, sobre a colcha feita à mão
Debruada com borlinhas

Ai a Mariquinhas é muito prendada
'Tava a fazer colcha toda em crochet
Já me ofereceu
Que é para eu estrear no Natal
A colcha pesa 50 kg
Já me estou a ver pela porta fora
Com a colcha às costas

Lá está tudo, tudo, tudo, até o xaile
E a guitarra enfeitada com fitinhas
E sobre a cama reparo
Um peniquinho de barro
Bem bonito e pintadinho com florinhas

E eu fiquei tão contente
Ficamos calmamente
A beber até de manhã, ai umas pinguinhas
Pois agora voltou tudo ao tempo antigo
Na casa da Mariquinhas
Pois agora voltou tudo ao tempo antigo
Na casa da Mariquinhas



Credits
Writer(s): Alberto Janes
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