Pedagoginga

Orumilá jogou seus búzios para ver
Que futuro ia ter a ave que enfrentou o Oxóssi
Índio guerreiro que era justo, que era forte
Que pra defender seu povo
Tinha apenas uma flecha em sua posse

E que mostrou que o impossível não era improvável
E o que não era tranquilo se fez favorável
E uma hora cês vão ver o inevitável
Nossa fé é imensurável e transforma dor em motivação

Pra superação, tanta humilhação
Atravessar o oceano pra trampar na sua plantação
Café, algodão, cana, escravidão
Alforriaram o nosso corpo
Mas deixaram a mente na prisão

Não! Abre logo a porra do cofre
Não tô falando de dinheiro, eu falo de conhecimento
Eu não quero mais estudar na sua escola
Que não conta a minha história
Na verdade, me mata por dentro

Me alimento da sabedoria de entidades de terreiro
Sou guerreiro da falange de Ogum, zum, zum, zum
Capoeira mata um, mata mil
Pedagoginga na troca de informação

Papo de visão, nossa construção
Passa por saber quem somos e também quem eles são
Não entrar em conflitos que não tragam solução
Evitar a fadiga, não dar um passo em vão

Quando todo campo de conhecimento é válido
Só tem que o homem pálido
Nos vende que somente o seu que serve
Levanta-se a voz daquele que se atreve
A expor seu desconforto mesmo que o sistema não releve

Não é leve, não, mano, pesado, pique um fardo
Eu tenho amigos no outro lado
São exceções que eu tenho amor
Mas se tem coisa que a escola não me ensinou
É que o amor é indispensável em qualquer lugar que for

Minha percepção de mundo diz que nós
Mesmo não vendo nada em volta, nunca estamos sós
Faço minha oração, peço forças pro meu guia
E que ele não me abandone nas lutas do dia a dia

Mano, vou te falar hein, oh, lugar que eu odiava
Eu não entendia porra nenhuma
Do que a professora me falava, ela explicava, explicava
Querendo que eu criasse um interesse
Num mundo que não tinha nada a ver com o meu

Não sei se a escola aliena mais do que informa
Te revolta ou te conforma com as merda que o mundo tá
Nem todo livro, irmão, foi feito pra livrar
Depende da história contada e também de quem vai contar

Pra mim, contaram que o preto não tem vez
O que que o hip-hop fez? Veio e me disse o contrário
A escola sempre reforçou que eu era feio
O hip-hop veio e disse: Tu é bonito pra caralho

O hip-hop me falou de autonomia (Thiago Elniño)
Autonomia que a escola nunca me deu (pra vida)
A escola me ensinou a escolher caminhos
Dentro do quadradinho que ela mesmo me prendeu

(Sant) nasceu vencendo o Apartheid no ventre
Vive quem sempre sabe olhar pra frente, certo?
Livre com toda vez áspera, conta meses a esperar
Pra respirar, mais um dessa diáspora

Com 3 ouvia pólvora, com 4 o pai não mais verá
Cinco primo preso, qual perspectiva haverá?
A 9 do plantão disparará, opera lá
Mas pensa, menor de 10 o júri absolverá

Se envolver, era pra coroa não piorar
Deus escutará no rádio (será?)
Na escola não ensinaram a orar, mas aprendeu a contar
E ponta é fácil, 600 por semana, piscou, tem 13 agora

Vai comprar até kit novo e comemorar
Mas o silêncio na ilha diz o que se repetirá
Pra tua mérito-fazenda, meu verso-fagulha
Porque tinha só 16, tem 5, 8, 4 na agulha

Minha percepção de mundo diz que nós
Mesmo não vendo nada em volta, nunca estamos sós
Faço minha oração, peço forças pro meu guia
E que ele não me abandone nas lutas do dia a dia

Minha percepção de mundo diz que nós
Mesmo não vendo nada em volta, nunca estamos sós
Faço minha oração, peço forças pro meu guia
E que ele não me abandone nas lutas do dia a dia



Credits
Writer(s): Sant'clair Araujo Alves De Souza, Rhandus Mauricio Santana, Thiago Henrique Miranda Da Silva
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