Roncos do Diabo

Com três paus, faz-se um bordão
Com mais um, faz-se um ponteiro
Por anônima a função
Encarnado num gaiteiro

O Diabo já é velho
Mas é grande folião
Na festa, mete o bedelho
Pra animar a bailação

Pra aquecer o bailarico
Abre a torneira ao tonel
A cura dá-lhe um fanico
Lá se vai o hidromel

Essa bebida dos anjos
Que agrada tanto ao demônio
Já tentou São Cipriano
São João e Santo António

Santo António, milagreiro
Fez um pacto com o demônio
O Diabo era gaiteiro
E o santo tocava harmônio

São João tocava caixa
Com dois paus de marmeleiro
Mas o delírio das moças
Era a gaita do gaiteiro

Inchava como um leitão
Quanto se lhe puxa o rabo
Pela copa do bordão
Jorravam roncos do Diabo

Era a gaita do demônio
Que soava endiabrada
Refinava com o harmônio
Mas não estava homologada

Estava fora das medidas
Saía da convenção
Tinha veias no ponteiro
E dois papos no bordão

Criação de Belzebu, diabólica magia
Nas voltas da contradança
Quem dançava, enlouquecia

E nas voltas da loucura
As almas em desatino
Saltavam de corpo em corpo
Errando de seu destino

O gaiteiro as reunia
Como se junta um rebanho
Fê-las descer ao inferno
No fogo, tomaram banho

E já os corpos em brasa
Iam fazendo das suas
As vestes esfarrapadas
Mostravam as carnes nuas

Indulgentiam absolutionem
Et remissionem peccatorum
Tributat nobis Dominus

Com três paus, faz-se um bordão
Com mais um, faz-se um ponteiro
Por anônima a função
Encarnado num gaiteiro

As fêmeas eram lascivas
Ondulantes de paixão
Corroídas por desejo
Contorciam-se no chão

No terreiro da função
Os corpos se confundiam
Seguidores de Belzebu
Das almas santas, se serviam

Foram pela noite fora
Perdidos no bacanal
Ao som desta banda louca
Até ao Juízo Final

Indulgentiam absolutionem
Et remissionem peccatorum
Tributat nobis Dominus



Credits
Writer(s): Carlos Guerreiro
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