Manifesto / Pule, Garota (Ao Vivo)
Eu quero explicar a coisa a todas vocês
Eu acho que quem dá na cara
De uma outra pessoa ofende a Deus
Portanto, na frente de todas vocês
Eu queria pedir desculpas a gorda
Gorda, você me desculpa?
Você bate e depois pede desculpas
Vocês estão vendo?
Não se pode tratar bem a uma mulher
Ele vem comendo sua mente
Na pressão psicológica
Na relação, te deprecia
E isso não tem lógica
Se você acredita
Em cada palavra dita
Perdendo a sua identidade
De si já desacredita
Não é mais a mesma fita (não)
Mas não consegue enxergar
Do jeito que tá não dá
A que ponto cê vai chegar?
Até quando vai aceitar
Vai acatar o que ele impõe?
Ele não propõe
Sem direitos, mas aqui a gente se opõe
Capaz de te fazer sentir errada
Manipulador
Se soubesse que era cilada
Fugia da dor
Pra mim isso não é amor
Quem ama não põe medo
Aponta o dedo, com vergonha
Você guarda seus segredos
Quem devia te acolher
Te dar abrigo, ser amigo
Embaixo do mesmo teto
Vivendo com o inimigo
Tá correndo perigo
Sem coragem de renunciar
Esse som é pra anunciar
Gaslighting é a denúncia
Querem saber quanto eu peso
Querem saber quanto eu meço
Eu não quero nem saber (foda-se)
Digo isso nos meus versos (vai!)
Minha sina é manifesto
Pelas mina', meu protesto
Minha rima, o padrão te contamina
Eu tô no rap ou no Miss Universo?
Decida, ou eu ou a minha autoestima
Qual das duas vai querer fuder?
Me engana e ainda me subestima
Mas a decisão não virá de você
Foi o estopim sua mão sem sim
Pegando em mim (na maldade)
Não tem que ser assim
Mas se eu for dar um fim
Não respondo por mim (da minha parte)
Cês tem mania de propriedade
Manter-se intacto é prioridade
Parece um pacto de integridade
Garantir ser macho de verdade
O estado da veracidade
Apoia merdas e atrocidades
Se tu enxerga a realidade e não faz nada
Cê é um grande covarde!
Todas temos feridas
Que pomadas não curam
Nem médicos, estratégicos
Perfuram no íntimo
Sentimos que somos fraturas
Nos causam dor, os assédios censuram
Os nossos passos são monitorados como BBB
Não importa qual seu DDD
Assusta
Quantas delas morrem nos abortos
A culpa
Do estupro vai pra roupa que cê usa
Em ditadura de beleza
Dita a dura realidade
Nascer mulher, certeza
Que vão te chamar de louca
Tenta calar sua boca
Beijar sua boca a força
Questionam nossa força
E nos oprimem com força
São vários danos (vários)
Boicotam nossos planos
Diferem os salários
Põe debaixo dos panos
Nos querem maleáveis
E influenciáveis
Fracas e tão sensíveis
Brinquedo pros covardes
Basta desses Zé Mayer
Cês mexeram com todas
Meu trampo tá nos flyer
Meu din', minha responsa
Eu quero os dólar' na conta
E foda-se os faz de conta
Não sou princesa, eu sou leoa
E pra caçar, tô pronta
Querem levantar voz mas nóis levanta mais
Não sirvo só pra aquecer os seus lençóis (vaza)
Querem levantar voz mas nóis levanta mais
'Tamo no fronte, somos fonte, revolucionárias
Se manipula, domina
Não passará
Quem bota a mão e se aproveita
Não passará
Opressor só na lábia
Não prosperará
Quer se crescer, cê não é nada
E nunca será, yeah
Não que eu jogue mandinga ou energia
Nem faço simpatia e cês merecia
Mas cavam suas próprias covas e afasta os guia
Cê tá cheio de ódio do poder das mina
Se achou que eu ia pedir sua ajuda (não, não)
Se achou que não seguraria a bronca (bronca)
Que acreditei que ainda foi minha culpa
Mas eu sou só minha, não, nunca fui sua (sua)
Levei muito tempo
Pra entender que não era amor (não)
Só me sabotou, só se apoiou
Cê só me sugou
Descobriu que eu sou grande agora? (ahn?)
Alt Niss tá brilhando agora? (não)
Cê tava olhando pro umbigo enquanto eu
Fazia a bomba pra fuder o mundo dos cara
Fica calmo, respira
Isso deve estar demais pra você, né?
Vou cantar bem mansinho
Pra ver se o machinho aí consegue entender
Não estamos dispostas a recuar
Não tem nada que nos enfraqueça
Nem adianta chamar os amiguinhos
Pra te dar ibope, não abaixo a cabeça
Se cai uma no chão
Tem mais seis bem do lado pra dar contenção
Quero ver ser o valente otário
Que pra uma mulher vai levantar a mão
A gente pode chorar
A dor transborda do coração
Imagina estar sendo humilhada
Por ele que teve sua dedicação
Tristeza clara no olhar
Dor transborda do coração
Imagina estar sendo o melhor de você
E em troca ter humilhação
Mas a dor vai cessar
E a ferida um dia vai cicatrizar (vai)
Juntas estamos mais fortes
Nos dando suporte, vai ser ruim segurar
A gente se cuida (é!)
Não estamos sozinhas (não!)
Dá tchau pra sua paz, agente quer mais
Respeite as guerreiras rainhas
A gente se cuida (é!)
Não estamos sozinhas (não!)
Dá tchau pra sua paz, agente quer mais
Respeite as guerreiras rainhas
Eu me sinto insegura
Meu comportamento muda
Olha só que loucura
Eu vivo com medo
Sociedade injusta
Essa cidade me assusta
Mas sou do tipo que luta
Eu cansei de ter medo
Eu me lembro da Cláudia
Arrastada na rua
De porcos na viatura
E flores na sepultura
Sinto ódio por dentro
E eu trago conhecimento
Sou empoderamento
Eu mantenho a postura
Eu me lembro de várias
Que vocês esqueceram, é
Nóis no fio da navalha
Desde o navio negreiro
Mas minha voz não se cala
E pro seu desespero
Eu tô afiando a navalha
Eu já nem sei o que é medo
Eu já nem sei o que é medo
Eu já nem sei o que é medo
This is a romance world
Eu já nem sei o que é medo
Eu já nem sei o que é medo
Eu já nem sei o que é medo
This is a romance world
Eu já nem sei o que é medo
Eu já nem sei o que é medo
Romper silêncios é o primeiro passo para a cura
Quanto tempo você não escuta o som da própria voz?
Por medo de incomodar, a gente cala as justiças
Mas dá pra promover mudanças no conforto?
Assumimos, então, que trazemos narrativas de incômodo
Queremos que nossas palavras
Cortem como navalha a sua indiferença
Deixe a sua consciência intranquila
Cause conflitos e tempestades (eparrei!)
Desconforto é incômodo necessário
O som das nossas rimas vai perturbar o teu sono
Desestabilizar a sua calma
E ao mesmo tempo
Mostrar a nós a força da quebra
A felicidade de se autodefinir
Sim, vou olhar pra mim
E dessa vez, eu vou gostar do que eu vejo
E direi para mim o quanto eu sou incrível
Vou falar, gritar e me emocionar
Quando enxergar Dandara em mim
E essa voz vai ser coletiva
Vai ultrapassar fronteiras
Tirar a venda dos meus olhos
Conceição Evaristo, um dia, disse
Nossa voz estilhaça a máscara do silêncio
Então fale, destranque, deságue
Dá medo, eu sei, mas fale
Às vezes a gente acha
Que o muro é muito alto
Mas pule, garota
Você não vai nem arranhar os joelhos
Pulem, garotas
Djamila Ribeiro
Credits
Writer(s): Karoline Mary De Souza, Carlos Eduardo Alves Da Rocha, Tassia Dos Reis Santos, Mayra Santana Azevedo Maldjian, Tatiana Bispo Dos Santos, Eunice Santiago Albertini, Adriana Barbosa De Souza, Renan Assuncao Sabino, Stefanie Roberta Ramos Da Costa, Djamila Tais Ribeiro Dos Santos
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