Lá Vem a Cidade (Ao Vivo)

Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá
Onde daqui a cem anos vai ser
Uma beira-mar

Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá
Onde daqui a cem anos vai ser
Uma beira-mar

Vi a cidade passando rugindo através de mim
Cada vida era uma batida de um imenso tamborim
Eu era o lugar, ela era a viagem
Cada um era real, cada outro era miragem

Eu era transparente, era gigante
Eu era a cruza entre o sempre e o instante
Letras misturadas com metal
E a cidade crescia como um animal

Em estruturas postiças
Sobre areias movediças, sobre ossadas e carniças
Sobre o pântano que cobre o sambaqui
Sobre o país ancestral, sobre a folha do jornal
Sobre a cama de casal onde eu nasci

Meu castelo
Naquela serra de lá
Onde daqui a cem anos vai ser
Uma beira-mar

A cidade passou me lavrando todo
A cidade chegou e me passou no rodo
Passou como um caminhão passa através de um segundo
Quando desce a ladeira na banguela

Veio com luzes e sons
Com sonhos maus, sonhos bons
Falava como Camões, gemia feito pantera
Ela era bela fera

Desta cidade um dia só restará
O vento que levou meu verso embora
Mas onde ele estiver, ela estará
Um será o mundo de dentro
Será o outro o mundo de fora

Vi a cidade fervendo na emulsão da retina
Crepitar de vida ardendo, mariposa e lamparina
A cidade ensurdecia, rugia como um incêndio
Era veneno e vacina

Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá
Onde daqui a cem anos vai ser
Uma beira-mar

Eu pairava no ar e olhava a cidade
Passando veloz lá embaixo de mim
Eram dez milhões de mentes, dez milhões de inconscientes
Se misturam, viram entes, os quais conduzem as gentes
Como se fossem correntes dum rio que não tem fim

Esse ruído são os séculos pingando
E as cidades crescendo e se cruzando
Como círculos na água da lagoa
E eu vi nuvens de poeira e vi uma tribo inteira
Fugindo em toda carreira, pisando em roça e fogueira
Ganhando uma ribanceira e a cidade vinha vindo

E a cidade vinha andando
A cidade intumescendo
Crescendo, se aproximando

Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá
Onde daqui a cem anos vai ser
Uma beira-mar

Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá
Onde daqui a cem anos vai ser
Uma beira-mar

Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá
Onde daqui a cem anos vai ser
Uma beira-mar

Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá
Onde daqui a cem anos vai ser
Uma beira-mar



Credits
Writer(s): Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, Braulio Fernandes Tavares Neto
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