Ano Bom

O salto que precede a queda
Marionetes no salão
Quem são os donos desse império?
Quantos de nós nessa prisão?

Quem vem de onde nos salvar?
Quanta alegria a salivar
Nas bocas secas não beijando?
Sem poder nada,
Até quando?

Quem?

Quem andará nessas alturas?
Quantas agruras me trará?
Qual é o preço desse absurdo?
Quem tem coragem de pagar?

Quantas moradas do divino?
Quantas as portas pra arrombar?
Quantas desgraças, desatinos?
Quantos destinos pra traçar também?

Foi, foi um ano bom
Bom pra desesperar
Foi, foi um ano bom
Bom pra se anular

A paz de anteontem
A guerra de ontem
A paz

A guerra de ontem
A paz de anteontem
A paz

O busto do herói de guerra
A gloriosa frustração
Do canto que em si se encerra
E não reverbera no salão

Quantas as faces da miséria?
Quantas rasteiras pra levar?
Qual o tamanho dessa queda?
Qual é o prazo pra chegar ao chão?

A transcendência da matéria
Hinos e mantras pelo ar
A epiderme da tragédia
Todos os fatos por contar

Quem é o dono dessa história?
A quem cabe o fardo de narrar?
Quem no final terá a glória?
O rei de toda a escória, quem será?

Foi, foi um ano bom
Bom pra desesperar
Foi, foi um ano bom
Bom pra se anular

A paz de anteontem
A guerra de ontem
A paz

A guerra de ontem
A paz de anteontem
A paz



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