Entre a Glock e a Igreja

Andei pelas trevas, caminhei no escuro
Na boca de fumo, fiz dinheiro sujo
Não baixei minha guarda pras armadilhas do mundo
Peço perdão ao pai e agradeço por tudo

Andei pelas trevas, caminhei no escuro
Na boca de fumo, fiz dinheiro sujo
Não baixei minha guarda pras armadilhas do mundo
Peço perdão ao pai e agradeço por tudo

Invejoso gosta de apontar o dedo
Não faria o que eu faço, teria medo
Quantos igual a mim foram mais cedo?
A morte é um mistério, é um segredo

A vida ensina a não olhar pra trás
Seguir o seu caminho, querer bem mais
Na pista os menor' tá de cão pra trás
Vacilou, o retorno é de Jedi

A visão é fazer seu pé de meia
Se envolver demais, no bang, tonteia
Tô imune a quem diz da vida alheia
Entre a Glock e a Igreja, a fé clareia

Quanta fita eu fiz pro bem
Quando eu brotei igual Robin Hood

Tô invisível no escuro (no escuro)
Passo de moto igual vulto (vrum-vrum)
Do alto do morro eu vejo tudo (eu vejo todos)
Jogando fora seu futuro (fodendo tudo)

Fui crescendo revoltado, me joguei no mundo
Por bem pouco, eu não fui preso na porta da creche
Os P2 'tão vindo armado e eu com Flora no colo
Pra mim sair daqui, é só pulando muro

Eu tinha que aprender a parar de ser moleque
Falava do meu pai, 'tava fazendo igual
'Bandonei minha família pra cheirar farinha
Deixei minha mãe sozinha em pleno Natal

Todo erro aqui é fatal
Eu vivia pela madrugada
Dinheiro, eu ganhava, dinheiro, eu gastava
Mas nunca ajudava ninguém dentro de casa, enfim

Era um poço sem fundo, um beco sem saída
Mataram no campinho um menor do meu bonde
É foda quem não gosta de andar armado
Dá uma sensação de que tu é mais homem

Foi quando eu parei e larguei o revólver
Vocês apostaram que eu não ia longe
Muita gente falou que não ia dar em nada
Subestimaram o menor que 'tava cheio de fome

Andei pelas trevas, caminhei no escuro
Na boca de fumo, fiz dinheiro sujo
Não baixei minha guarda pras armadilhas do mundo
Peço perdão ao pai e agradeço por tudo

Andei pelas trevas, caminhei no escuro
Na boca de fumo, fiz dinheiro sujo
Não baixei minha guarda pras armadilhas do mundo
Peço perdão ao pai e agradeço por tudo

Quer andar de meiota? (vrum-vrum)
Corre pra fazer a sua grana, pai
Sinto os invejosos gritando: Cai! (Cai!)
Mas só ouço quem tá gritando: Vai! (Vai!)

Sangrando por quem eu amo (e aí?)
Ganhando com quem me ama
Era pela fama, eu andava com cano
Hoje é por amor, eu tô com grana

Na régua, sem pó, sem crack
Favela cria, a cura tá aqui
Por um par de Nike, eu segurei a Glock
Quase que eu viro história, agora eu faço história aqui

À noite eu faço uma oração (e aí?)
Favela correndo, barulho dos fogos
Papai do céu, protege os nossos, por favor
A guerra do justo é a festa dos porcos

A guerra não é santa, minha 9, eu benzo
30 caroço' no pente (hey)
Se escuto o ruído vindo do silêncio
Vira saudade pra sempre (sempre)

Tive que ver pra crer
Diabo chamando pro inferno
E Deus gritando de cima
Meu filho, não vire um luto eterno

Com a peça na cinta'
E os malote em cima da mesa (com a peça na cinta)
A morte circula de farda
No ataque surpresa (a morte circula de farda)

Sobe o balão, faz a média
Com a vista chinesa (sobe o balão, faz a média)
Na contenção, meus soldados moldado
Amargura e frieza (yeah, yeah)

Cego, surdo e mudo nesse jogo sujo
Sobretudo da responsa, eu não fujo
Olho pro céu, busco refujo
Meus manos 'tão doente pela droga com os lucros
Mas sabe que a cobrança vem com juros

Corpos com furo somem no escuro
Abaixo da terra ou a solidão nos muro
Largue logo dessa vida, veja bem o seu futuro
Ouça minha história, com esses versos, eu te curo

Andei pelas trevas, caminhei no escuro
Na boca de fumo, fiz dinheiro sujo
Não baixei minha guarda pras armadilhas do mundo
Peço perdão ao pai e agradeço por tudo

Andei pelas trevas, caminhei no escuro
Na boca de fumo, fiz dinheiro sujo
Não baixei minha guarda pras armadilhas do mundo
Peço perdão ao pai e agradeço por tudo

Foi desde menor que eu vi vários cair
Querendo ser alguém (vários)
Podia tá trilhando o caminho brilhante
Tá na linha do trem

Montou na 600 e caiu pra pista atrás da de 100
Quem sou eu pra julgar tua realidade?
(Quem?) Ninguém

A verdade é que eu nunca me envolvi
Graças a Deus e minha família
Oportunidade nunca faltou
Ainda bem que eu não caí na pilha

O sonho de vários menor'
Era Hornet amarela e tênis 12 mola
Escolhi botar o pé no skate
Ao invés de ter que botar a mão na pistola

Sabendo que o mundo dá volta
Agradecendo mais um dia de vida
Me disseram: Quem se foi, não volta
Ainda choro pois é triste a partida

Essas horas podia tá na endola
Passando umas grama e a visão no rádio
Quem quis me botar na mancada
Hoje bota pra ouvir minha música na rádio

Meu Deus do céu me disse
Que ainda dava tempo (ainda dá tempo)
Quantos dos nossos se foram, ficaram de exemplo

Abrindo os olhos pra vida, eu vi a morte de perto
Desde menor sabendo
É o certo pelo certo



Credits
Writer(s): Antonio Mariano Lauro Jardim, Bruno Marco Lima
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