Tático Cinza

Vem na moral, dobrando a esquina
Farol apagado, cano pra fora, dobrando a esquina
No meio da neblina, no meio da rua
DSL tático móvel na captura

Rádio acionado, retrato falado
Suspeito sou eu na mira de um tático
Com ferro ou papel na ocasião
Cada vez mais perto, acelera meu coração

Com flagrante ou sem flagrante, se pá, tá limpo
Na madrugada pra polícia todo mundo é bandido
É, cada vez mais chegando devagar
Sou eu no alvo, eu na mira, eu no radar

Me lembro rapidamente da favela
Daquelas cenas que assisti no Cidade Alerta
O camburão colando e metendo balas
Portas batendo, os corpos no chão furados na bala

As pessoas assustadas no local
Assassinato de quebrada é natural
Periferia de ponta a ponta sabe
Fato polêmico real, sem disfarce

A minha história não tem no dicionário Aurélio
Um pingo é letra pra macaco velho
Vai entender, ladrão, a minha língua
No meio da neblina o tático cinza

É o tático cinza, é o tático cinza
Vem na moral, dobrando a esquina
É o tático cinza, é o tático cinza
Vem na moral, no meio da neblina

É o tático cinza, é o tático cinza
Vem na moral, dobrando a esquina
É o tático cinza, é o tático cinza
Vem na moral, no meio da neblina
É o tático cinza, é o tático cinza

Sinto o medo no momento me dominando
Desespero cada vez mais me sequestrando
A maca se aproximando, chegando perto
Meu corpo agonizando a um passo do inferno

Você não é ninguém, você não é nada
Sem Deus com você ou seu anjo da guarda
Eu aqui parado, cada vez mais tenso
Coração acelerado, as pernas tremendo

Três elementos, no mínimo quatro
Se passa assim, o rosto encapuzado
Farol apagado na minha direção
Uma matraca e uma doze de repetição

Penso comigo: Fodeu, já era
Mais um corpo pra debaixo da terra
Mais uma alma saindo de um corpo
Mais um jovem brasileiro morto

Fazer o quê? Já não nem conto mais com a sorte
No pensamento é Deus e São Jorge
Guerreiro protetor que me acompanha
Eu vejo o tático chegando na campana

Vem na moral, fazendo a curva
Silencioso, todo apagado na captura
De quebrada, na madrugada
Sou eu na mira, no meio da neblina, é o tático cinza

É o tático cinza, é o tático cinza
Vem na moral, dobrando a esquina
É o tático cinza, é o tático cinza
Vem na moral, no meio da neblina

É o tático cinza, é o tático cinza
Vem na moral, dobrando a esquina
É o tático cinza, é o tático cinza
Vem na moral, no meio da neblina
É o tático cinza, é o tático cinza

Será, meu Deus, que eu vou morrer dessa forma?
Morto por tiros, meu sangue pra fora
Não vou correr, não vai adiantar
Eu tô sentindo a morte vindo me buscar

Lembro da minha mãe dizendo pra mim
Que Deus te abençoe, meu filho, e que você seja feliz
Lembro de uma pá de mano guardado
Salve, salve, Faxina, Renato

A minha mente dispara, o coração acelera
Já tô imaginando o caixão e as velas acesas
O necrotério lotado
Várias pessoas chorando e os comentários

Foi a polícia, foi a polícia
Aqueles filhos da puta de farda cinza
Tudo isso eu penso em fração de segundos
Mas com certeza eu sei, sou mais um defunto

Ele vem, vem devagar e na maldade
Lá dentro tem uma rapa de covarde
Eu tô escutando um barulho conhecido
Tipo assim, mais ou menos de gatilho

Meu moleque vai chorar e vai ser foda
Quando ele olhar o meu corpo descendo na cova
Que sufoco, parece um pesadelo
Não sou o último, nem o primeiro
Não vejo a placa, nem o prefixo
Só o farol brilhando, o meu crucifixo

De repente eu escuto uma voz bem seca
Deitado no chão, filho da puta, mão na cabeça! Há!
O final é esse daí, você já sabe
Mais um jovem morto pelos covardes

É o tático cinza, é o tático cinza
Vem na moral, dobrando a esquina
É o tático cinza, é o tático cinza
Vem na moral, no meio da neblina

É o tático cinza, é o tático cinza
Vem na moral, dobrando a esquina
É o tático cinza, é o tático cinza
Vem na moral, no meio da neblina
É o tático cinza, é o tático cinza



Credits
Writer(s): Douglas Aparecido De Oliveira
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