Mar

Deus salve quem hoje da água benta impossível
Aqui no promontório de Sagres
Onde o céu e o mar
Se confundem no olhar
Chão da pátria, marés
Sofisma, ilusão
Murmúrio, saudade

Deus salve quem mata a alma digna valente
Aqui no promontório de Sagres
Onde as sombras inquietas se confundem na dor
Céu da pátria, luz
Mentiras, verdades
Sussurro e rancor

Deus salve quem esquece o mar que não se vê

Deus salve quem quer o mar que não existe
No promontório de Sagres
Onde as línguas bastardas se confundem no segredo
Espelho da memória

Deus salve quem dorme no ventre quente de Vénus
No promontório de Sagres
Onde o ódio e o amor se confundem no regaço
Noite embalsamada

Deus salve quem grita
As trevas voltaram
Aqui no promontório de Sagres

Onde os que vencem se confundem
No milagre as mãos não acenam
Fatia de mar veneno, noite encantada

Deus salve quem mente
As idades não gritam
Aqui no promontório de Sagres

Onde o tempo e o espaço se confundem
No rumo, bandeiras ao vento castelo de areia
Anátema cegueira, silêncios rebeldes

Deus salve quem nasça neste mar derrotado
Deus salve quem viva neste mar revoltado
Deus salve quem cresça neste mar vagabundo
Deus salve quem morra neste mar tão profundo

Deus salve quem esquece o mar que não se vê



Credits
Writer(s): João Ribeiro
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