Cinamomo

Já se vai mais um outono
E teu cerne, cinamomo
Não padece diante ao tempo
Como perdemos amores
Tu perdes folhas e flores
Pela insensatez do vento

A raíz que tens no chão
Mal comparo a um coração
Que bate cicatrizado
E se agora és claridade
Chora a sombra, tua metade
Desde que foste plantado

Do que sinto, cinamomo
Eu também nunca fui dono
Restou-me o viver vazio
Me desfolhei em sorrisos
E tu, no corte preciso
Dos machados de bom fio

Viverás além de mim
Ou encontrarás teu fim
Muito antes, em verdade
Pois chegadas e partidas
São o que fazem a vida
Ser eterna nas saudades

Cuida o tempo, cinamomo
Disfarçando o mesmo sono
Que vela o frio das esperas
Sorte, por algo, não cansa
De renovar a esperança
Ao voltar a primavera

E quando tu foste abrigo
Deixaste marcas comigo
E um tanto desta fragrância
(Que enfeitiça os caminhos)
Como é lindo andar sozinho
Nos corredores da infância!

Que pena os rumos mudarem
E muitos sonhos passarem
Num suspiro mais que nada
E os pés que iam descalços
Pisarem agora infalsos
Temendo as encruzilhadas

Tu anseias chuvas mansas
E que a terra, por confiança
Seja santa à brotação
Pra outra vez, bem copado
Ser testemunha postado
Dos silêncios do rincão

Eu anseio novos dias
Onde tudo de valia
Floresça com humildade
Este é o tempo, cinamomo
À ti, se vai outro outono
E a mim, um ano de idade



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