O Rio

Ergue-te ó sol da alvorada
Coroado astro-rei
Da neblina cerrada
Cai a chuva que eu chorei
Da evaporação
Das lágrimas no chão
Nasceu um rio junto ao mar

Voam os pardais de telhado
Que a terra cultivou
No sótão desventrado
Que a memória ocupou
Com rochedos de pó
E as cinzas dos avós
Que um dia vão poder dançar

E depois vem o rio
Corre em fio para o mar

Crescem os frutos de outra árvore
Colhidos de manhã
No peito das palavras
Que saltam do sutiã
Na marcha nupcial
Chorei um funeral
Reguei as flores do altar

Tirei do centro a gravidade
Vontade por cumprir
Abrigo da saudade
De um fado que quer mentir
Cordão umbilical
Num útero de sal
Que prende o feto até chorar

E depois vem o rio
Corre em fio para o mar

Fiz amizade com a saudade
Esculpida em pó de arroz
Da vitrine da noite
Vi um sol que não se pôs
A pomba amanheceu
Na estátua que se ergueu
De um rosto anónimo a cantar

E depois vem o rio
Corre em fio para o mar



Credits
Writer(s): Daniel Catarino
Lyrics powered by www.musixmatch.com

Link