Gisele

O sol não ilumina mais
O olho bege de Gisele
Nem se pode saber qual dermatite escama
Entre os dedos e as covas
Das unhas doentinhas
Quando Gisele lava os operados

Não há sol no mundo que ilumine
O caramelo triste do olho de Gisele
E ela louva coberta de glaucoma

E até as putas mais indiferentes destas ruas
Curvam suas orelhas à porta da igreja Batista Betel
Quando Gisele canta
Para os Lázaros às segundas

E rasga uma canção tão triste
Quanto uma criança débil mental
Babando a cabeça descosturada
Do seu elefante de pelúcia
Numa cadeira de rodas
Na rodoviária de Recife

Pro seu canto de paz eu ergo um sol vermelho
Pro seu canto de paz eu ergo um sol vermelho
Pro seu canto de paz eu ergo um sol vermelho
Pro seu canto de paz eu ergo um sol

Gisele não sabe das revoluções camponesas
De nenhum lugar do mundo
Mas vende calculadoras nos ônibus de linha
Ao preço de dois reais
Para a manutenção dos ídolos que reúne
Outro dia sob a marquise de um café em Minas Gerais
Bêbado de conhaque
E manuseando imaginário a caixa de controle do seu ex trator
O viciado aponta na camisa a inscrição

Pro seu canto de paz eu ergo um sol vermelho
Pro seu canto de paz eu ergo um sol vermelho
Pro seu canto de paz eu ergo um sol vermelho
Pro seu canto de paz eu ergo um sol



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