O Lixo e o Luxo a Lama e a Fama o Nada e a Nata

Eu sempre gostei de ser mais um pobre sem perspectiva
Que pela cor da pele é foco nos enquadros policiais
Não me importo de viver na região
Que diariamente é criticada nas TVs e seus jornais

Sendo eu quem eu sou, vindo de onde eu vim
Sei que o pó tem a única carreira que vão dar pra mim
Não reclamo, gosto, sim, isso é tão banal
Já que não tenho dinheiro, eu sou marginal

Vivo uma boa vida, sempre de regime
Porque às vezes falta grana pra comprar o que eu quero
Amigos de infância eu perdi pro crime
Ninguém mandou querer ganhar algo além do resto

Não me entristece, não
Nem me faz querer chorar
Quando uma mulher atravessa a rua
Só pra na mesma calçada que eu não passar

Até gosto dessa incerteza
De levantar todo santo dia sem saber se vou poder comer
Sem tempo pra estudar ou aprender uma profissão
Muito ocupado, trabalhando pra sobreviver

Se você soubesse o tamanho da felicidade que eu sinto
Toda vez que escuto isso
Lá vai outro favelado sem futuro
Se ele não for um crackudo, com certeza é bandido

Até quando isso vai ser normal?
Uns com tanto, outros com tão pouco
Não parece errado pra você?

Quando desigualdade se tornou cultural?
Uns em prantos, outros pelo bolso
Não parece errado pra você? Iê

Eu devo tá mal acostumado
É muito chato ter que comprar celular
Sem não me preocupar com o valor pago
Já que no fim é meu papai que vai pagar

O mesmo papai que tem um esqueminha no comércio
Nas escolas e em tudo, enfim, porque ele é político
Tudo vem de mão beijada, nunca me esforço pra nada
E é por isso que minha vida é um lixo

Queria ter nascido um menino pobre, não um rico top
Acho que Deus não entendeu
E de rolê com meus amigos pobres
Enquadrados pelos cops, todos apanharam, menos eu

E eu sei, meu berço é de ouro, sim
A minha mesa é farta, a mansão que é gigante
Motorista particular
Por que a vida é tão difícil pra mim?

Até quando isso vai ser normal?
Uns com tanto, outros com tão pouco
Não parece errado pra você?

Quando desigualdade se tornou cultural?
Uns em prantos, outros pelo bolso
Não parece errado pra você? Iê



Credits
Writer(s): Gabriel Rodrigues, Lucas Alberto Ribeiro Teixeira
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