O Silêncio do Rio

Água do rio foi cascata
No chão que a chuva encharcou
Foi mensageira entre as matas
E os mares que desaguou
Foi correnteza pesada
Gota de néctar de flor
Névoa de mil madrugadas
Água do rio que secou

Ê ê, ô ô... Água do rio que secou

Seiva de água cristalina
Mãe que nunca abandonou
Da ferrugem, concubina
Machado lhe assoreou
Nela a vida não germina mais
A ignorância barrou
Violentada e sem rima
Água do rio que secou

Ê ê, ô ô... Água do rio que secou

Quando secou, será
Que cada alma que cuida do rio
Secou também?
Que toda honra dos homens mergulhou na lama
Que o nosso rastro é o rejeito amargo
E que as manhãs deviam vir sem nós?

Quando secou, será
Que cada alma que cuida do rio
Secou também?
Que toda honra dos homens afundou na lama
Que o nosso rastro é o rejeito amargo
E que as manhãs deviam vir sem nós?

Água ainda escorre dos olhos
Lembrança doce arrancou
Do povo que sofre a mágoa
Do leito que se manchou
Outro rio corre em seu veio
Aquele rio já passou
Amargurado eu ponteio
Sua aventura cessou

Ê ê, ô ô... Sua aventura cessou

Ê ê, ô ô... Água do rio que secou



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