Alfabeto Do Canhoto

Vou contar a história
De um valentão
Brincava com as armas
E o coração

Quando ele chegava ele causava dano
E a galera se benzia pedindo proteção

Tinha um olhar de maloqueiro
Desses que arrepia até o cão
Reza a lenda que sua vontade
Era viver da maldade
Até o fundo do chão

Mas o seu destino era traçado
Pra outra ocasião
Na encruzilhada uma risada
Lhe chamou a atenção

E aí meu irmão demorou sumiu por quê?
Tô chegando de Brasília bora pro rolê
Quero propor um pacto pra te tirar da lama
Não viajo à toa, conheço sua fama
Tenho vários contatos de valor
Banca de deputado e senador
Homens de bem, homens de moral
Tem até Pastor neopentecostal
Mas tem um fulano no setor que não fecha comigo
Uns chamam de professor
Eu chamo de inimigo
Em sua sala eu não entro
Pra mim é a cruz
Prefiro trilhar minha sina onde tem menos luz
Muitos me chamam de capeta, canhoto, tinhoso, mas vou dizer
Paulo Freire esse é o mais perigoso
Era bem mais fácil enganar os homens, quando José e Dona Maria não assinavam nem o nome
Agora tá diferente, perdi a influência, quem aprende nunca esquece, liberta a consciência
Se liga na ideia, que diferença faz o céu ou o inferno pra quem nunca teve a paz
É agora se joga vamos pro que interessa, quer mostrar quem manda mais então a hora essa
Me traz a cabeça desse professor que a gente fecha nosso pacto, firmão, demorou?

Foi aí que o valentão percebeu
Que o perigo era estudar
E montou uma quadrilha
Pra alfabetizar



Credits
Writer(s): Guile Martins, Daniel Nova
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