Necrológio

Pensamentos
Em desacordo
Com o amanhã
Irrompem o caminho

Faíscam
A revolta latente
Que execra o medo
E a pátina dos dias

Quantos futuros
A lucidez espatifou?

Quantas ilusões
São precípuas?
Quais realidades
Nos mantém vivos?

As conquistas
Que te obrigam a ter
Despertam mais desgosto
Que alacridade

Quantos futuros
A lucidez espatifou?

Quantos futuros?

Acumulam-se
Mais perdas
Quando se decide
Não estripar os fantasmas

Um monturo
De angústias
À deriva
Nas sinapses
Farpam
Sob a lúrida luz
De cada dia
Do ralo
Ao esgoto

Quantos futuros
A lucidez espatifou?

Catastrofizam-se
Futuros
Quando não se sabe
Se o futuro
Morreu ou não



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