Mal Acompanhado

Tentaram-me matar a sede com gotas de água salgada (Na boa bebi)
Até me secarem os lábios e me desidratar a alma (No fim só ouvi)
O eco de um riso maldito num beco onde ando sozinho (Mal acompanhado)
Mas estas paredes têm ouvidos, convém ter cuidado

Cuidado com as companhias, já a mãe dizia
Só línguas afiadas, só dá chungaria
Olha que ainda um dia acabas sozinho
Com as palavras que guardas com tantos traumas dentro da caixinha

Então abri-a e vi o que eu não queria ver
Tanta página rasgada eu não consigo ler
Peguei fogo ao que restava
Viro cinzas, pó e nada no silêncio a cantar lágrimas p'ra adormecer

Mas estou demasiado acordado para sonhar
Devo estar morto vivo nem me sinto a respirar
Eu juro que não consigo mais ter de levar comigo
E estas vozes na cabeça como faço para as calar?

Foda-se
Já vi que o álcool não resulta
Saltei da terceira prancha para me afogar na culpa
Fui ao fundo e vi a mancha de sangue, bati com a nuca
Vim à tona com a lembrança que sou um filho da puta

Será que alguém se orgulha daquilo que faço?
Já estiquei tanta corda, mas nunca lhe dei o laço
Enquanto o corpo definha vou matando mais um maço
Tento me manter na linha, mas longe do vosso traço

Tentaram-me matar a sede com gotas de água salgada (Na boa bebi)
Até me secarem os lábios e me desidratar a alma (No fim só ouvi)
O eco de um riso maldito num beco onde ando sozinho (Mal acompanhado)
Mas estas paredes têm ouvidos, convém ter cuidado

Larguei o mundo p'ra me poder segurar
Vou andando moribundo, meio a cambalear
Imagina bem o cúmulo em que o meu único estímulo
É ver-me a cavar um túmulo onde eu me possa deitar

Porque estas visões atrofiam, intermitentes
Como luzes que me cegam não me deixam seguir em frente
São as mesmas que me levam aos encontrões de repente
'Tou mais sozinho que nunca no meio de tanta gente

Sou mais um corpo que se arrasta
Por esta praça, uma réstia de uma carcaça

Vou mendigando pela cidade
Por copos e trocos e pelo prazer de saber
Que um dia acabamos mortos
E um dia acaba tudo e só resta o silêncio
Um círculo de surdos mudos gesticulam tudo o que penso

E se eu penso logo existo, então desisto de pensar
Hasta la vista, só me apetece bazar

Tentaram-me matar a sede com gotas de água salgada (Na boa bebi)
Até me secarem os lábios e me desidratar a alma (No fim só ouvi)
O eco de um riso maldito num beco onde ando sozinho (Mal acompanhado)
Mas estas paredes têm ouvidos, convém ter cuidado



Credits
Writer(s): André Tavares, Marco Ferreira
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