Freguesia de Ninguém

Já ouço o sino
Que hoje é domingo e o Senhor Padre espera em vão
Por uma alma que se chegue à confissão
E lhe confesse que o esperam para almoçar

Sonha acordado
Mas pelos vistos o povo não tem pecado
E está na hora de partir pr'outro recado
Que o esperam na freguesia de ninguém

E o seu suspiro já ecoa p'la estação
Ressoa o sino mas ninguém presta atenção
E nem o santo do altar lhe dá dois dedos da conversa mais banal

E até os ventos mudaram de direção
E o São Pedro avisou de antemão
Que se a uva já está pronta desta gente não terá nenhum sinal

Já ouço o sino
E de mansinho rezo pelo que aí vem
Que este ano a terra não me deu do que ela tem
E a colheita deixa fome por matar

Ai se eu pudesse
Descer à vila ajoelhada numa prece
Que cá p'ra mim Ele às vezes lá se esquece
E deixa estes campos por abençoar

E o meu suspiro ecoa na imensidão
As minhas lágrimas vagueiam pelo chão
E não há nada que me salve esta alma afogada em ilusões

E só me resta esperar pelo verão
Que o São Pedro nos queira dar uma mão
E trautear por entre dentes que o que nos resta são só mesmo as canções

Haja esperança que a bonança há-de vir



Credits
Writer(s): Helena Kendall
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