Ouço Vozes

Não te vi comigo no início da trajetória
Agora sou PM amigo e não me chama de escória
Quando eu tava iludido, náufrago em vinho tinto
Falido no dia sexto com o soldo no dia quinto

Só me ama porque minto e digo que estou bem
Às noites, ainda ouço vozes vindas do além
Afundo no submundo vendo coisas que sou refém
De seres vindo das trevas e me torno tão Frankenstein

Nem me conhece e me chama de amigo
Agora que os sons acontecem, é fácil, mas eu nem ligo
Vendo um futuro próspero, eu pego e acendo um fósforo
Queimo as notas que me oferecem, me sinto tão áspero

Minas que nunca me viram me oferecem sexo
Nesse complexo sem nexo, me sinto Ícaro
Com asas feitas de cera, despenco da laje que ataca
O império que só existirá numa imagem abstrata

Me trata igual magnata, oferecem ouro e prata
Vampirismo, várias gatas querem minha taca
Não me leve a mal, mas esse mundo de ilusão
Não me atrai, por isso, permaneço na escuridão

Ouço vozes enquanto durmo
Psicoses de um louco
Atrozes me vigiam após o turno
Acordo um tanto puto, pouco culto, dando tiro, dando soco

Ouço vozes enquanto durmo
Psicoses de um louco
Atrozes me vigiam após o turno
Acordo um tanto puto, pouco culto, dando tiro, dando soco

Te peço, não fale meu nome, o que eu quero é anonimato
Não espalhe, seja homem, não quero status
Na primeira esquina, fala: "Eu sei quem é o Mike, fato"
E se acha Sherlock Holmes com atitude de rato

Um dia apareço aí, terá alvo pra treta
Vários botam a cara só procurando buce—
O que crio, nem gosto, só junto os meus destroços
No travesseiro quando encosto e rezo um Pai Nosso

Tô motivando gente, dando atenção
E lutando, polivalente, contra a própria escuridão
Não me viram na missão meio a trocas de tiros
Sem contribuição com advogados, em bravos me viro

Me pedem som de operação em aglomerado
E assim falou: "PapaMike não mandou o recado"
Você não liga se eu paro e da solidão eu corro
Talvez o canto que declaro é só um pedido de socorro

Desse topo que chamo morro, quase morro por respeito
Tipo um velho solitário, deito no meu leito
Tento mudar meu jeito incendiário e ser educado
Escrevo um diário do soldado que paga todos pecados

Você anda na escuridão e caos
O que é real agora não vai ser real amanhã
Não escute todas as vozes
Tem vozes demais, demais, não escute

Ouço vozes enquanto durmo
Psicoses de um louco
Atrozes me vigiam após o turno
Acordo um tanto puto, pouco culto, dando tiro, dando soco

Ouço vozes enquanto durmo
Psicoses de um louco
Atrozes me vigiam após o turno
Acordo um tanto puto, pouco culto, dando tiro, dando soco

Eu sei o que sei e o que você não suportaria saber
Você pensa apenas em si mesmo
Vocês são todos iguais
Tanto na sua sombra pela manhã escorrendo por suas costas
Ou sua sombra ao entardecer ir crescendo ao seu encontro
Te mostrarei o medo em um punhado de poeira



Credits
Writer(s): Papamike
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