Prólogo

eu quero a palavra que rasga a orelha do livro
palavra que finca bandeira no tronco da história
na dobra da esfera
palavra que dura e supera a agonia do agora
por fora do esquema
palavra que queima a revanche, destrói as correntes
e quebra o dilema
e não se amedrontará

quero a palavra que move a engrenagem do tempo
que cria memória
palavra que empurra a canoa e alimenta a fogueira
que limpa a sujeira
palavra que brota da boca de um santo guerreiro
e varre a maldade
palavra que escreve esperança no céu da cidade
vibrando na nova era

palavra que ri no silêncio do gato
que canta uma reza na água da cachoeira
palavra que é planta no meio do mato
e que reverbera a beleza

quero a palavra que veste uma capa de estrelas
que preste pras curas
palavra que acende figuras no céu da caverna
e é mãe do poema
palavra que é sol e cinema, que é filha das luzes
maior do que as cruzes
e sílaba a sílaba a fala será feito ilha
deserta do que é ruim

quero a palavra que cala em respeito ao silêncio
que serve, que vibra no alto
por baixo das águas, por cima das nuvens
e é só gentileza
partilha do pão sobre a mesa, do céu sobre os ombros
que vence os escombros
palavra que brota do corpo feito tatuagem
e ensina o que é coragem

palavra que ri no silêncio do gato
que canta uma reza na água da cachoeira
palavra que é planta no meio do mato
e que reverbera a beleza

ke o elegbara
ara e e
ago nile
mofori gbale



Credits
Writer(s): Luiz Gabriel Ferreira Lopes
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