Ak-47

É, mano... O bagulho aqui é doido

Mais uma noite de uma vida que você não quer
Vai de AK-47 pra tirar plantão
Do barraco pra viela, sobe o morro à pé
Os manos já te aguardam lá na contenção

Observa o movimento ao redor da boca
Os malandros e drogados subindo a ladeira
Com olhos esbugalhados de mosca na sopa
É o pó, a erva e a pedra não são brincadeira

Enquanto troca uma ideia com o fiel do bonde
Você pensa na infância e nos sonhos que teve
E a criança que já foi e hoje se esconde
Te questiona, te pergunta repetidas vezes

Quantos deles você matou pra sobreviver?
Quantos deles você matou pra sobreviver?
Quantos deles você matou pra sobreviver?
Quantos deles você matou?

Mas como você vai largar aquela grana certa
E trocar por um emprego de assalariado?
Se abandonou os seus estudos pela vida incerta
Seu caminho pelo crime já está traçado

Aos dezesseis você já tem todo o roteiro escrito
Da maldição que se repete a cada geração
A certeza que a pobreza vem de pai pra filho
E que a morte chega cedo nessa profissão

Mas agora é muito tarde, os home já vêm vindo
E pelo visto não é só pra buscar o arrego
O fogueteiro, seu isqueiro, os fogos vão subindo
E sua AK-47: acabou o sossego

Quantos deles você matou pra sobreviver?
Quantos deles você matou pra sobreviver?
Quantos deles você matou pra sobreviver?
Quantos deles você matou?



Credits
Writer(s): Frodovino Lemos De Oliveira
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