Ressaca.15 - Tudo que já nadei

Para tudo haverá a sobrevivência
Acho que foi Freud que falou
Sobre o sistema de sobrevivência
Que para sobreviver em tempos sombrios
É preciso delirar

Um sistema delirante
Pra mim, foi eureca
Estou há trinta e muitos anos
Delirando, sobrevivendo
Escolhendo essa circunstância

Praguejo sim, falo mal sim, reclamo sim
Mas quando estou com meu gênio contrário
Quando tudo se alinha tenho o bom humor
E quanto me xingam, me criticam, me assaltam
Me violentam, me pressionam, me encurralam

Eu me salvo
Não mais aos berros
Aos risos

2013, já que 2012 não acabou
Descobri tarde
Desculpa, corpo, que pena, corpo
Que a prática real de exercícios ao ar livre
Me deixa longe da vala triste

Não que eu seja demente
E preze a felicidade o tempo inteiro
Longe, gosto dos buracos
Mas quando percebi que pedalar
E ir ao mar me valia análise, abracei

Cê já entrou no mar e chorou?
Dei para ir ao mar e ir chorar lá no fundo
Hoje passei pelos banhistas sorrindo
E quando ninguém conseguia ver meu rosto
Só o mar, mesmo, chorei

Recomendo
Estando por ali, nadei
Dei para nadar no mar agora
Perdi o medo de baleia

Peito, costas
Tem sido curioso
É uma pedra, Letícia
É um cardume, Letícia
Não é baleia!

Tento ser minha amiga
Depois cogitei correr
Mas o tri atletismo me assusta
De tarde vivi minha vida burocrática
Prática e hedonista, foi um dia completo

Depois cozinhei três itens saudáveis
E um trash
Porque eu também não aguento
Dei para plantar bananeira no quarto
Creio que estou irrigando o cérebro

Creio que
De noite pedalei mais uma vez
Uma volta na lagoa
A lua era puro fiapo
A água nem parecia tão suja

Três capivaras
Pai, mãe, filho
Julguei pelo tamanho normativo
Escadinha, que boba eu

Me assombraram, cogitei registrar
Mas seria mais uma foto feia
Tal como tantas da lua
Mais cheia do ano desde sei lá quando

Na ladeirinha de volta
Aumentei a velocidade
Porque é só com medo
Que se perde e se ganha o controle
Tirei as mãos do guidão, dei para

Piscina do papai, vovô
Veio à tona, esfregou os olhos
Assoou o nariz, riu da gosma nasal
Isolada na água como se fosse óleo

Repetiu o procedimento
Fechou os olhos, afundou
Achei que fosse se afogar
Achei que merecia medalha de ouro

Nadou até a ponta
Encostou a mão na borda
Voltou da mesma maneira, veio à tona
Desta vez, abriu os olhos direto
Sem esfregar

Os cílios unidos
Como se fosse um desenho animado
O nariz não escapou das mãos
A gosma nasal boiando
Como uma ilhazinha na piscina

Sorriu safado, perguntou se eu não queria
Expliquei que não queria entrar
Estava com frio
Perguntei quantos anos achava que eu tinha
Uns 8, tia? Perguntou

8, morri
8, renasci
Foi com 8 anos que mergulhei nessa piscina
Pela primeira vez



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