Vida a Mil

No fundo eu estou num planeta, mas queria estar noutro
Ainda nem estragaram este, já estão a pisar outro?
Não há chá no meio da guerra, só cacos em escombros
A terra chorou do teu lado e tu nem deste o ombro
A árvore a que eu subi, cortaram, está curva
Onde eu pintei com cores, ficaram tão turvas
Onde eu passei por flores, agora 'tão murchas
Uma vida pouco ousada, afogada em desculpas
Uma vida mal vista que nem olhou por mim

Embebida nesse verde que se vê daqui
Embutida no quadro pintado do jardim
Caeiro, o teu poema é aqui!
O cubo onde eu gelei, derreteu entretanto
Se o mar subiu de nível, lágrimas do pranto
Raízes que eu nunca tive, agora eu planto
Para respirar outra vez, juro eu preciso tanto
(Eu preciso tanto!)

Dessa verdade que só a terra dá
Dessa verdade onde o meu ser se faz

Então vem dançar comigo, danço tudo outra vez
Damos uma volta, duas ou quem sabe três
Quatro para quem quer viver assim a vida a mil
Para viver sozinha eu prefiro viver comigo

Agora só nos resta culpa recente
Nesse silêncio dos inocentes
Achas que eu não vi o filme, que eu não tive atenta?
Eu vi bem esse sangue a virar magenta
O rasto da noite numa estrela cadente
Não me encontrei lá fora sem olhar pa' dentro
Então tu diz ao tempo para envelhecer sem mim
Posso nem ser visionária mas eu estou a ver o fim

Dessa verdade que só a terra dá
Dessa verdade onde o meu ser se faz

Então vem dançar comigo, danço tudo outra vez
Damos uma volta, duas ou quem sabe três
Quatro para quem quer viver assim a vida a mil
Para viver sozinha eu prefiro viver comigo



Credits
Writer(s): Maria Bentes
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