Disfarce

Eu aguento
O açoite que transpassa pelo tempo
E embora a minha cor seja forte
Mas não combina com seu branco neutro

Não lamento
A dor é ancestral e sem momento
E tudo que me sobra é a sorte
Não vou argumentar, seu branco isento

Vai dizer
Que não é nada
Que tal jogar
Com a pele errada?

O martírio
E a luta negra
Que faz um preto gritar
É o mesmo vício
Que atrai à praia
E faz Caymmi cantar o mar

Sabe um tempo?
O sustento de um país lamacento
Movido pelo estalo do chicote
Moeda de valor pro salvamento

E até hoje
A fatura requer pagamento
Grilhão aberto, quase liberdade
Alforria versus livramento

Vai dizer
Que não é nada
Que tal disputar
Com a pele errada?

O martírio
E a luta negra
Que faz um preto gritar
É o mesmo vício
Que atrai à praia
E faz Caymmi cantar o mar

O disfarce
Dessa pele branca
Esconde o homem
Mas não o olhar
São tantas marcas
E eu sinto todas
E o negro em mim
Também vem lutar
E cantar o mar
Cantar o mar



Credits
Writer(s): Christiano Raynor
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