Embriagada de Lembranças, Sorri

olha o mapa e o nome das ruas
não precisa avisar ninguém
sempre acabo tomando o caminho com outras palavras mesmo.
escreve aí, vai:
ninguém é tão feliz assim.

você me diz
"quero fazer meu mapa astral"
não sabendo o que responder, penso que teu lugar de paz
(ou de ilusão)
seja secreto.
lá, se opera a ideia de ninguém lembrar o próprio nome
e todo mundo fingir que tá tudo bem.
mostrar a cara ninguém quer,
elevar o grito também não
e levar a tesoura pra cortar o que for preciso assusta.
ninguém quer encarar o desassossego nessa casa
e a gente vai ensaiando o retrato da família feliz
pra quando bater a foto
todo mundo sair com cara de plástico.

o conflito foi meu primeiro admirador secreto
e eu o levo no peito em pedacinhos até hoje.

eu quero amar, mamãe
mas o dicionário? é machista
e dengo não tem significado sem corpo junto.

joguei o mapa fora,
te levei pro centro pra ver você dançar na minha batida
e foi um tanto quanto difícil te ver cair no desconhecido.

não sabendo como responder
te dei a mão
pra cair contigo.

bêbado, você lembrou a primeira vez que viu o mar
e, como sempre,
eu esqueci de contar os passos
que demos pra chegar até à praia.
pra mim, é sempre diferente sentir na pele,
seja o mar
ou o arrepio na nuca,
posto que é sempre tudo um tanto quanto inaugural.

sem precedentes
sem lembrar de onde eu vim
igual a alice no país das maravilhas
quando ela pergunta pro gato o caminho,
mas ela não sabe dizer pra onde ela vai então qualquer caminho serve.
ele teve que dominar o grito,
mas eu fugi desse passeio louco.
prefiro caminhar sozinha
e é só.



Credits
Writer(s): Fernanda Bessa, Noedir Ferrara Junior
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