Conto Bafiento

Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem por não saber o que é olhar para as coisas
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina

Que o Sol se levante sem um triste semblante
O mal, corto como um diamante nunca relutante e
Jamais cintilante de vaidade reluzente
Sinto a dor de um caminhante sobre cinza incandescente

Enquanto o ódio propaga nas ruas onde o pecado mora
No peito a saudade aperta como a dor de quem partiu para fora
E o sofrimento é similar ao de uma mãe que chora
Quando ora por um filho que parte fora da sua hora

Nunca cabisbaixo nestes versos que encaixo
Jamais me rebaixo facho leva ordem de despacho
Sou resiliente como o sol nascente eu volto sempre
Mais um dia nesta luta de labuta permanente

Permaneço num endereço onde o amor não tem preço
Onde o apreço te acalma se tens a alma do avesso
Recebo o dobro do que ofereço o que ofereço é genuíno
É o destino de um peregrino até o badalar do sino

Tem calma, querem mais um discípulo não lhes dou capítulo
Sou mais baixo que um peão neste xadrez político
Desperto nesta situação eu ando sempre aflito
Pois qualquer falta de atenção o resultado é crítico

Tenho de manter a cabeça fria lutar mais um dia dar
Um conforto à Maria apoio à minha cria
Levantar cair faz parte da minha sina
Continuar e persistir faz parte da minha rima

Eu queria comprar
Um bocado do tempo
Só para voltar atrás
Desviar o lamento

Mudar o argumento
Deste conto bafiento
Eu queria comprar
Um bocado do tempo

Neste jogo sou só mais um player que se fez à vida
Tentar soldar as contas com rimas numa batida
Não veio fácil mas foi uma rota definida
E não havia GPS então foi à deriva

Sempre com fumo no meu peito humildade e respeito
Quando o trabalho é ganho o trabalho é para ser bem feito
Representando o que ficou atrás de mim
Levo arrependimentos pois a vida é mesmo assim

Podia desviar mas não sabia de antemão o conforto
Que seria não resistir à tentação
Mas não, preferi sentir o sabor da verdade
E agora vivo entre a loucura e a sanidade

Eu jamais demagogo sou mais pedagogo o meu velho
É como novo tenho estima pelo jogo
Estamos inconformados e a postos nos postos a puxar ferro
Com o peso dos impostos que nos são impostos

Estamos a contar trocos e não a contar gostos
Ricos que roubam pobres não há Robin dos bosques
Estamos a gastar cobres estamos a gastar votos
Tanta areia para os olhos o povo é que sofre

Vistos como piratas vimos pilhar o tesouro
Antes que os magnatas venham arrancar o couro
Eu não nasci num berço d'ouro só colchão de palha
E não conheço o fio d'ouro só o da navalha

Não arquiteto mas com mais um projeto na calha
Homem maduro e adulto não se dá com canalha
Não há Deus que valha quando é o sistema que falha
Estamos rodeados por escumalha

Eu queria comprar
Um bocado do tempo
Só para voltar atrás
Desviar o lamento

Mudar o argumento
Deste conto bafiento
Eu queria comprar
Um bocado do tempo

Eu queria comprar
Um bocado do tempo
Só para voltar atrás
Desviar o lamento

Mudar o argumento
Deste conto bafiento
Eu queria comprar
Um bocado do tempo

Quebrar este sentimento
De ir num barco à vela sem vento
Dobrar o cabo do tormento
Sair deste modo cinzento

Mudar todo o andamento
Deste governo nojento
Não importa quem tá lá dentro
Todos no conto bafiento

Eu queria comprar
Queria, queria
Só para voltar atrás
Só para voltar atrás

Mudar o argumento
Deste conto bafiento
Eu queria comprar
Um bocado do tempo



Credits
Writer(s): Mundo Segundo, Vinis Vega
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