extremidades

Deixei de me caber
P'ra caber em ti
Deixei teu corpo sobre o meu
Na fé de me chegar

Mas tenho de partir
Daqui p'ra me entregar
Ao mar que eu nunca vi
Se eu o vir, vou querer ficar

E se esta noite, tu quiseres
Sair daqui p'ra ver o mar
Faz tudo para então chegar
Depois do meu desatracar

Rasgam-se as extremidades
Esticam-se, esticam-se, esticam-se
Até se extinguirem, de vez, sim
Redundantemente, as adiposidades

Até que, em contraste com o sol
Se vejam visceralidades esquecidas
Que talvez, sem querer, ainda invades
E esqueces que outrora te foram
Tão alegremente cedidas

Esmagam-se, esmagam-se, esmagam-se
Esmagam-se, esmagam-se
Para que o tamanho, agora já estreito, te sirva
E aqueça o teu imenso peito

Agora experimenta e olha-te ao espelho
Em ti, claramente, à luz, o peito não fica vermelho
E a razão para isso é, simplesmente, toda a tua carne
Ser o contrário da minha
Que exposta, em repetição, oposta
Com o tempo, o tempo definha

Não é tua essa pele que vestes
É minha, e agora faz tanto frio
Quem olha não esconde o fastio
E o meu, que um dia foi cheio
De tanto perder, tornou-se vazio

Mas tenho de partir
Daqui p'ra me entregar
Ao mar que eu nunca vi
Se eu o vir, vou querer ficar

E se esta noite, tu quiseres
Sair daqui para ver o mar
Faz tudo para não chegares
Depois do meu desatracar



Credits
Writer(s): Malva
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