Choro da Rouca

Imagino o meu corpo a voar pela varanda
Quando guardo pra mim o que não digo
E fecho os olhos até doer

O meu receio é que esse esforço que fazes pra me entender
Seque o fundo do poço
Antes da sede de o beber

Estes lamentos, pavios que ateio pra queimar
Ladainha arde no vazio
Sem água pra apagar

Quando chegar o fim
Ninguém ouve o choro da rouca

O teu grito cortava como conchas partidas
Na areia molhada das marés vivas
Pelos pés ao coração

Quando fica tudo turvo, tudo ao contrário
Um grão de areia do tamanho do oceanário
Perdi de vista as paredes da prisão

E se a dor que tens no dorso for cansaço de me erguer
For fraqueza do esforço
Do meu peso a exceder

Quando chegar o fim
Ninguém ouve o choro da rouca

Ó Filipe, olha lá, essa passividade 'tá mesmo agressiva hoje
Não dizes nada, só te queixas
Tanto rancor que tens aí



Credits
Writer(s): Filipe Sambado
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