Naufrágio

Hoje vamos ter leve garoa
Nuvem brava e baroa
Aprumar-se para a proa
E uma voz me diz

Verbos, reverbos de agitar
Uma voz morta e frugal, uma areia

Uma tempestade bate, bate
E eu tique e taque, fecho os olhos
Abro os fechos canto e deixo
O meu desejo ensopar

E o sereno serenar
Não há mais hora de secar
Não há o que seque se é que em mar
Que vivemos já e já

A vida é um naufrágio
E há gigantes formas de se naufragar
Pequenas conchas me lembram de mim

Pequenas conchas me lembram do fim
Serenas fronhas onde nunca dormi
Formosas santas pra quem não rezei
Risadas tantas que eu nunca ri

Uma aliança com quem nunca fui
Sons derradeiros que saem de mim e nunca ouvirei



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