Temos Tempo

Estava no fim
Já sem ti
Sem abrir espaço para o que vem aí

Já deixei o tabaco
Mas não encontro o maço
Parece que em toda a parte
Peço um vício emprestado

Viver é um tentar acumulado
Um esventrar do que já estava curado
Procurar resquícios ou indícios de que possa ter voltado
Negar que podemos ter mudado

É que já estávamos do outro lado
Devemos ter sido abençoados
São tudo factos
Evoluir é um contrato
Ver novidades
E duvidar

Mas encontrar na longevidade
O substracto
O sublinhado
Ler o que foi sobrevivendo e referenciado
Sem fazer valer até à insanidade

Ter cá dentro o Deus e o diabo
Andar pro frente e afastar o que me impede de viver mais um bocado
Mas vou ficar aqui sentada
Sem ter nada combinado

É evidente que nos perdemos
No que nos afasta simplesmente
Toda a gente tem momentos
Em que se sente menos presente
Mas temos tempo
Temos tempo
Temos tempo
Temos tempo
Nós temos tempo
Temos tempo
Temos tempo
Temos tempo
Nós temos tempo
Temos tempo
Temos tempo

Saí porque o meu copo tinha entornado
Não quer dizer que não ia voltar
Aliás volto para me consolar
E se mudar chego ao espelho
Para me reconciliar

Estou precisada de parar
Mas a vontade de pensar
Faz-me sentir que me relato
Que mantenho vivo e eterno o meu próprio retrato
É nas palavras que me hidrato

Ressuscitaram-me já em tempos de necessidade
Alimentei-me do vocabulário no prato
Agradecer a sorte de me poder ouvir e confortar
Como se tivesse uma dupla existência

Poder pôr-me na balança
Voltar a estados de mudança
Compreender o palato
Do conforto alcançado
Sem me deixar ficar
Saber que tudo vai sempre mudar

E que temos tempo
Temos tempo
Temos tempo
Temos tempo
Nós temos tempo
Temos tempo
Temos tempo
Temos tempo
Nós temos tempo
Temos tempo
Temos tempo
Temos tempo
Nós tempo tempo
Temos tempo
Temos tempo
Temos tempo
Nós tempo tempo



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