Livro Aberto

Essa cama imensa consumindo a noite
Esse livro aberto como alegoria
O abajur perdido em sua luz
Essa água quieta desejando a sede

O controle girando no ar
A TV remota em sua fantasia
Uma alegria que não vai passar
Se você vier

Esse teto frágil sustentando a lua
Esse livro aberto como uma saída
O tapete e seu plano de vôo
O lençol revolto antecipando o gozo

Essa velha casa de coral
Essa concha muda que o meu sonho habita
A paixão invicta que não vai passar
Se você vier

Esse rádio doido de olhos valvulados
Esse livro aberto como uma sangria
Esse poema novo sem papel
O papel que cabe aos meus sapatos rotos

O meu rosto que o espelho não vê
A janela imóvel em seu desatino
Esse meu destino que não vai passar
Se você vier

Esse quarto agindo à minha revelia
Esse livro aberto como uma indecência
O desejo é um naco de pão
A ilusão exposta em tanto desalinho

Uma tecla insiste em bater
No relógio o tempo é uma saudade tensa
E essa cama imensa que não vai passar
Se você vier

Se você vier

Se você vier



Credits
Writer(s): Vitor Hugo Alves Ramil
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