A Fábrica Do Poema

Sonho o poema de arquitetura ideal
Cuja própria nata de cimento encaixa palavra por palavra
Tornei-me perito em extrair
Faíscas das britas e leite das pedras

Acordo e o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo
Acordo, o prédio, pedra e cal, esvoaça
Como um leve papel solto à mercê do vendo
E evola-se, cinza de um corpo esvaído de qualquer sentido

Acordo, e o poema-miragem se desfaz
Desconstruído como se nunca houvera sido
Acordo, os olhos chumbados pelo mingau das almas
E os ouvidos moucos
Assim é que saio dos sucessivos sonos

Vão-se os anéis de fumo de ópio
E ficam-me os dedos estarrecidos
Metonímias, aliterações, metáfora
Oxímoros sumidos no sorvedouro

Não deve adiantar grande coisa
Permanecer à espreita
No topo fantasma da torre de vigia
Nem a simulação de se afundar no sono
Nem dormir deveras

Pois a questão-chave é
Sob que máscara retornará o recalcado?
Sob que máscara retornará?
Sob que máscara?



Credits
Writer(s): Adriana Da Cunha Calcanhotto, Waly Salomao
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