Descivilização

Qualquer dia desses ainda pego o meu carro e sumo daqui. Vou aonde der a gasolina. Daí em diante ando a pé, até encontrar carona em carro de boi. Suspendo o meu ódio e salto num vale inatingível. Percorrerei a mata e me embrenharei por ela até chegar numa árvore, a mais alta, e tirar um cochilo jóia.

Na chuva que os dias trouxerem,
Esquecerei de contá-los,
Perderei seus nomes e sequência
Chamarei do que quizer:
Dia Vento, Dia de Sono,
Dia Sem Graça,
Dia, Areia e Pó

Os vícios e obrigações,
Responsabilidades, relógios e cordões,
Serão pesadelos que nem lembrarei
Palavras se perderão, outros símbolos virão:
Pedra cortada, o mato achatado, a seta no chão

Descivilização

Na chuva dos dias, meu nome vai fugir
Escorrer pela terra, até que as plantas o suguem
Aí ele será uma presença inaudível em todo lugar
Como algo tão notório e que, por isso, não precisa se falar
Sol sem brilho, luz sem cor

Descivilização

Porque a vida é passageira; e a morte, o trem.



Credits
Writer(s): Miguel Flores Da Cunha, Carlos Beni Carvalho De Oliveira, Andre Fernandes Leite Da Luz, Alvaro Prieto Lopes, Bruno Castro Gouveia, Carlos Augusto Pereira Coelho
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