Lá em baixo

Lá em baixo ainda anda gente
Apesar de ser tão noite
Há quem tema a madrugada
E no escuro se afoite

Há quem durma tão cansado
Nem um beijo os estremece
De manhã acordarão
Para o que não lhes apetece

E há quem imite os lobos
Embora imitando gente
Há quem lute e ao lutar
Veja o mundo a andar para a frente

E tu Maria diz-me onde andas tu
Qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
Qual de nós viu a noite
Até ser já quase de dia
É tarde, Maria

Toda a gente passou horas
Em que andou desencontrado
Como à espera do comboio
Na paragem do autocarro
Como à espera do comboio
Na paragem do autocarro

Lá em baixo ainda anda gente
E um sonho que anda à solta
Vem bater à minha porta
Diz a senha da revolta

Vou plantá-lo e pô-lo ao sol
Até que se recomponha
É um sonho que acordado
Vale bem quem ele sonha

Lá em baixo, até já disse
Que é que tem a ver comigo
E no entanto sobressalto
Se me batem ao postigo

E tu Maria diz-me onde andas tu
Qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
Qual de nós viu a noite
Até ser já quase de dia
É tarde, Maria

Toda a gente passou horas
Em que andou desencontrado
Como à espera do comboio
Na paragem do autocarro
Como à espera do comboio
Na paragem do autocarro

Lá em baixo ainda anda gente
E uma cara desconhecida
Vai abrindo no escuro
Uma luz como uma ferida

Como a luz que corre atrás
Da corrida de um cometa
E vejo vales e valados
No sopé duma valeta

Lá em baixo ainda quem passe
E uma cara conhecida
Vai ateando noite fora
Um incêndio na avenida

És tu Maria, eu sei, já sei, és tu
Qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
Qual de nós viu a noite
Até ser já quase de dia
É tarde, Maria

Toda a gente passou horas
Em que andou desencontrado
Como à espera do comboio
Na paragem do autocarro
Como à espera do comboio
Na paragem do autocarro



Credits
Writer(s): Sergio De Barros Godinho, Helder Alberto Maia Goncalves
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