Parque de giz

Foi demais.
Dá um tempo, desta vez foi demais.
Está doendo pra valer.
E é tão doentia essa tua compaixão
e tão pequeno me abraçar
se desinfetas tuas mãos.
E tua vontade de perdoar
o que eu não tenho vergonha de ser
nesse teu mundo vulgar.
Ah, acho tão discreto esse teu charme
e teu sorriso nos jornais.
Diz então, como podes me abrir o teu lar
se pões pregos em meu corpo?
E os espinhos em meu coração
não me deixam caminhar
sem deixar esse rastro no chão.
Faz assim, desenha um parque pra mim
e vem brincar até a tua mãe chamar.
Que amanhã aproveitamos o giz
pra desenhar outro lugar.
Quão cruéis crianças podem ser?
Quão cruéis elas podem crescer
e mostrar o que aprendem com os pais?
E apontar seus dedos aos demais.
Será que nascemos mesmo assim
ou será que deixamos tudo desabar?
Pois não lembro de um dia sequer
sem sentir não ter meu lugar
e sem ver meus parques de giz
sumirem com a chuva.



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