Jose

E agora, José
A festa acabou
A luz apagou
O povo sumiu
A noite esfriou

E agora, José
E agora, você
Você que é sem nome
Que zomba dos outros
Você que faz versos
Que ama, protesta
E agora, José

Está sem mulher
Está sem carinho
Está sem discurso
Já não pode beber

Já não pode fumar
Cuspir já não pode
A noite esfriou
O dia não veio

O bonde não veio
O riso não veio
Não veio a utopia
E tudo acabou

E tudo fugiu
E tudo mofou
E agora, José

Sua doce palavra
Seu instante de febre
Sua gula e jejum
Sua biblioteca

Sua lavra de ouro
Seu terno de vidro
Sua incoerência
Seu ódio, e agora

Com a chave na mão
Quer abrir a porta
Não existe porta
Quer morrer no mar

Mas o mar secou
Quer ir para Minas
Minas não há mais
José, e agora

Se você gritasse
Se você gemesse
Se você tocasse
A valsa vienense

Se você dormisse
Se você cansasse
Se você morresse
Mas você não morre

Você é duro, José
Sozinho no escuro
Qual bicho-do-mato
Sem teogonia
Sem parede nua
Para se encostar

Sem cavalo preto
Que fuja a galope
Você marcha, José
José, para onde

Você marcha, José
José, para onde
Marcha, José
José, para onde
José, para onde
Para onde

E agora José
José para onde
E agora José
Para onde

E agora José
José para onde
E agora José
Para onde
E agora



Credits
Writer(s): Paulo Cesar Alvim Ottoni, Carlos Drummond De Andrade
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