Pássaros (Interlúdio)

Eu já estou bêbado e sou
um velho livro que só
vive daquilo que tive e não daquilo que dão
e nunca houve um motivo pra procurar
um abrigo ou procurar um amigo pra uma desilusão
Eu já estou bêbado e sou
um velho livro que só
vive daquilo que tive e não daquilo que dão
e nunca houve um motivo pra procurar
um abrigo ou procurar um amigo pra uma desilusão
Cai a chuva na cidade e esta brilha, o cheiro é aliciante pra quem observa e fica

tentado a ser pedaço do bagaço que a faz linda
ou resto de uma garrafa que tende a ficar vazia
Era uma vez a noite numa rua tão sozinha,
enquanto esta se habitua a ter a minha companhia
Sou parte da mobília, como parte de mim esquecida
no que restam de trapos e partilhas com a vida
Acham-me triste, louco, os que passam mendigando
sentimentos de um banco que só me tem aconchegado
Eu já estou bêbado. Posso dormir descansado?
Pobre desgraçado que adormece ao meu lado
E todos estes com quem partilho o telhado

Abertas a putas e vadios desgastados de um trabalho

Há sempre luz neste enorme quarto

Ou um quarto crescente que nos observa afastado
Juntos ao luar, eu e a bebida,
à espera que um carro com voluntários
chegue e nos traga comida.
E porque ainda é cedo
e há sempre tempo para acender um cigarro
o tempo leva sempre isento.
Eu já estou bêbado e sou
um velho livro que só
vive daquilo que tive e não daquilo que dão
e nunca houve um motivo pra procurar
um abrigo ou procurar um amigo pra uma desilusão
Eu já estou bêbado e sou
um velho livro que só
vive daquilo que tive e não daquilo que dão
e nunca houve um motivo pra procurar
um abrigo ou procurar um amigo pra uma desilusão
Há muitos abrigos, cigarros e vinho, histórias que inventaram histórias para escrever no destino
Tudo começa no casino com dois copos de uísque,
os meus dotes no vício eram os cortes no físico

E nada é como era antes,
sorte de principiantes,

casamentos com lamentações distantes

Muitos quase fizeram de mim um prazo limitado
O que nem num passo para a rua

eu tinha um espaço reservado
Favores pagam favores, mas não limpam mau cadastro
Como posso ser um bom pai se não sei ser bom padrasto
Como suposto, princesas perderam sapato e rosto
porque o príncipe embebedou-se
e transformou-se num monstro.
Deram as doze badaladas, com doze garrafas,
muitas casas e demasiadas semelhanças
Não basta seres um santo se adormeces com o diabo
o amor é cego e não tolera observar-te.
Ás vezes fala a moral, eu vocalizo mas focalizo mal por só ver o que me importa,
assumo ter a culpa numa vivência humilde,
com uma história igual à tua só com um final mais triste.
Eu já estou bêbado e sou
um velho livro que só
vive daquilo que tive e não daquilo que dão
e nunca houve um motivo pra procurar
um abrigo ou procurar um amigo pra uma desilusão
Eu já estou bêbado e sou
um velho livro que só
vive daquilo que tive e não daquilo que dão
e nunca houve um motivo pra procurar
um abrigo ou procurar um amigo pra uma desilusão



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