Impossível Escrever Sobre Nada

Impossível escrever sobre nada
Não ter conteúdo, ou alguma importância
Longe de tudo, a ignorância
O corpo liberto, a mente parada

Impossível escrever sobre nada
Espaço profundo, vazio sem luz
O fim desse mundo que não se reduz
Ao mesmo caminho, ou beira de estrada

Impossível escrever sobre nada
A pura ausência, essência da falta
Nenhuma presença, silencio que salta
Sem sonho, futuro e memória bastarda

Impossível escrever sobre nada
O eco do oco, espelho no escuro
Ser menos que pouco em cima do muro
Pra ter uma ideia que não foi usada

Nada

Impossível escrever sobre nada
Ficar entre as coisas sem lhes pertencer
Com nenhuma delas se parecer
Botar no pescoço essa corda apertada

Impossível escrever sobre nada
Nascer sem origem, viver sem destino
Perder a viagem, morrer repentino
Sem nem conhecer a mulher amada

Impossível escrever sobre nada
Deixar ir embora, o que nem chegou
Botar para fora o que ainda não entrou
E andar deslizando na faca afiada

Impossível escrever sobre nada
Não permanecer, não ser, não sentir
Desaparecer sem nunca surgir
As mãos amarradas, a boca calada

É impossível escrever sobre nada
Colar os pedaços de um passado falso
Fingir que o sapato tem seu pé descalço
Encontrar os passos da perna amputada

Impossível escrever sobre nada
A peça de um jogo que ninguém encaixa
Sem errar o alvo, sem usar borracha
Sua força contraria é contrariada



Credits
Writer(s): Paulo Correa De Araujo, Fito Paes
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