Narciso sobre rodas

Ainda me lembro de ti
Tão cheio de ti mesmo
Passeando tua esfinge
De príncipe de alta casta
Alguém que já nem finge
Que amar-se a si mesmo basta

Havia sempre alguém
A prestar vassalagem
E a render-se à tua imagem
De Narciso bem penteado
Tirando da garagem
Um coração cromado

Julgavas que a vida era
Um chevrolet vermelho
Que a beleza bastava
Para seres do mundo lago
Mas quebrando-se o espelho
Não aguentaste o estrago

E eu que verti uma lágrima
Por não merecer o teu olhar
Pergunto a mim mesma
Como pude um dia
Por ti chorar
Narciso, sobre rodas, vem
Narciso sobre rodas

E agora encontrar-te
Pergunto a mim mesmo
Como pude um dia
Sequer amar-te
E agora encontrar-te
Pergunto a mim mesmo
Como pude sequer amar-te



Credits
Writer(s): Helder Goncalves, Carlos Te
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