A última - lado a lado

Quem sabe o mal que se esconde no meu coração?
A minha sombra sabe

O samba foi embora e eu fiquei por fora e eu fiquei por fora
Diz agora o que é que eu tenho que fazer
Sozinho na avenida eu caminho na batida
De uma vida sem saída e sem prazer
Sem o meu tamborim o que vai se de mim
Desfigurado eu balanço na dança da solidão
Desilusão, desafinação
Mas no peito de um desafinado também bate um coração
Consolação, um violão e a violência
Lado a lado

Os meus heróis são fantasmas, não morreram de overdose não
E o nosso passado é o presente que eu te dei pra refazer minha conexão
Eu sou ateu, não sou judeu
Se Deus existe, ficou triste, desengonçado
Um esqueleto em branco e preto, um mulato, negro gato de arrepiar
Eu vou sonhar com meu pecado
Lado a lado

O asfalto é o meu espelho e o meu retrato
É tão mulato e meu sapato
É branco e preto, é um tamanco
Eu ando manco, eu 'tô pelado
Alma penada
Eu tô pelada na minha estrada
Eu sou negão, eu sou neguinha, eu sonegado
Eu ando leve, eu sou pesado
Abro a cortina do passado
Tiro a mãe preta do serrado e caminho
Lado a lado

(vocal)

Eu sei que falam de mim
Eu sei que zombam de mim
Nada além, nada além de uma ilusão
Ah! Se soubessem o que eu sei
Como é doloroso um palhaço se afastar do palco por alguém
Leva o meu recado
Lado a lado
Lado a lado
Lado a lado

E se por acaso o que eu digo não faz sentido
É desconexo, é tão complexo, eu nada peço
Só quero samba e samba é sexo
Não é só verso é o reverso do meu plexo
Eu vou me'mbora, eu caio fora
Eu me desligo da lembrança do passado
'Tô desligado, não 'tá ligado, o meu recado pode ser jogado fora
Chegou a hora
'Tô dando o fora
'Tô vazando
'Tô atrasado no meu recado
Lado a lado