Rezem por Aquele Homem

Às vezes, eu paro e fico a pensar no que pode acontecer comigo
Portanto reflito, preciso de um minuto só, só comigo mesmo
A vida tá escrita ao nascermos pra compreender isso, vejam aquele homem
Um corpo estirado no chão, uma calçada suja, uma poça de sangue

Há cinco minutos atrás, sentado ali a pensar em sua vida
Como melhorar, não lembrar do passado, é quase impossível encontrar uma saída
Mas vejam, dizem, na hora da morte recordamos tudo
Acho que não daria tempo pra resumir sua vida em alguns segundos

Não dá, não dá pra pensar, só vem mesmo as partes piores na mente
Tentar decidir-se, ao seu lado uma arma reluz com uma bala no pente
Pertubações lhe atormentam, já não raciocina direito
Se afunda no álcool e nas drogas, o caminho curto não é o correto

Somente outra vítima de uma lavagem cerebral que enoja qualquer porco
Injeção letal, meu mundo atual, quase quinhentos anos e nada foi feito
E o que nos resta mesmo é apenas rezar
Ninguém vai chorar por nós, vejam aquele homem

Vejam aquele homem, a mente anda fraca, não pensava em nada, olha o que restou
Um corpo no noticiário, agora sim uma fama ele alcançou
Bem diferente da que tinha pensado pra si durante alguns anos
Até do seu filho esqueceu, durante sua vida viveu no engano

Meteram na cabeça dele que negro tem que ser pobre e ser ladrão
Viver sonhando com dinheiro, se acabar nas drogas, um abraço então
Eles batem palmas com isso, divertem-se às custas da nossa miséria
Que sistema podre, que merda, o inferno é o limite e está sempre aberto

Meu Deus, olhai pros seus filhos, não deixe que acabe mais nisso
Olhai por todos aqueles que partem da favela assim, eu Lhe imploro
Proteja os que aqui ficam, para que nunca se acabem assim
A fita amarela, o pente vazio, somente mais um: rezem por aquele homem

Imploro, oh, Pai Celestial
Proteja meu filho, reze por minha vida, louvado é Seu santo nome
Imploro, oh, Pai Celestial
Sentou sozinho, acabou-se, e eu peço que rezem por aquele homem

Imploro, oh, Pai Celestial
Proteja meu filho, reze por minha vida, louvado é Seu santo nome
Imploro, oh, Pai Celestial
Sentou sozinho, acabou-se, e eu peço que rezem por aquele homem

Anos e anos de vida jogados fora
Por mais que não tenham boas lembranças
Partir dessa forma é mais do que foda
Parece ser terrível a mente de um suicida

E o que se passa na mente essa hora?
Quanto vale a vida de um ser humano?
A merda de uma bala só acaba com um sonho
É decepcionante, caralho (shh), vamos rezar

A polícia chegou na área querendo uma explicação
Como se adiantasse alguma coisa, só restou limpar a sujeira no chão
Um otário recolheu a arma que fez o serviço, era uma automática
Os rostos em volta admiram, não entendem nada, comentam bobagens

Alguns falam sacanagens, a mãe descabelada chora
Seu filho caído sem vida, a estrada fechada há mais de dez horas
Se lamenta, reclama, sua riqueza foi pro espaço
Clama a Deus nas alturas, chora e desmaia, e é carregada nos braços

Será, meu Deus, que não existe outra saída?
Tentar se reintegrar é difícil, eu sei, mas é mais fácil ainda
Que meter uma bala na nuca, deixar mãe e mulher maluca
Por mais que eu tente, não entendo, é coragem demais que eu não aprecio

É preciso muito sangue frio, puxar o gatilho encostado a si mesmo
O desespero de quem vive humilhado faz coisas que até duvidamos
Penso se por um sobressalto o cara não tem tempo de se arrepender
O que se passa em sua mente esperando o momento certo pra morrer?

(Medos de angústia, desespero
Esperando o dia que a morte chega)

Cinco anos de sua vida perdidos na sala de um presídio imundo
Seu destino vê só a merda, viver na miséria, contente com isso
Não aguentou a pressão, seu filho nasceu, chora de fome à noite
Na rua à procura de trampo, os homens lhe veem e segura o açoite

Não, assim não dá, mano, a gente tenta melhorar, mas
Tudo vai de mal a pior, viver desse jeito é morrer ou matar
Voltar pra cadeia, não volto, não vão me forçar a sofrer como um bicho
Não tinha grana no seu bolso, trampo não consegue, assalto tá fora

Lembro-me como ele chegou, tirou sua arma da cinta e sentou
Um corpo que pedia ajuda em meio a milhares, ninguém se ligou
Esqueceu-se que iria deixar seu filho à mercê daquele sistema
O mesmo que lhe destruiu e meteu em seu cérebro a história errada

E o que restava a fazer, sentado ali a pensar
As partes ruins de sua vida vêm em sua mente lhe atormentar
Destrava a arma, coloca o pente, verifica se está tudo em ordem
Derrama uma lágrima, pede perdão, click, pá, foi seu último golpe

Meu Deus, olhai pros seus filhos, não deixe que acabe mais nisso
Orai por todos aqueles que partem da favela assim, eu Lhe imploro
Ilumine todos meus caminhos para que eu nunca me acabe assim
Sinceramente, eu imploro, oh, Pai, me deixe ir até o fim

Que eu tenha inspiração pra defender, ser a voz dos irmãos
Não morra na mão da polícia, não ser um suicida, me dê Seu perdão
Acabe então por fazer com que eu entenda toda humanidade
A fita amarela, o pente vazio, somente mais um: rezem por aquele homem

Imploro, oh, Pai Celestial
Proteja meu filho, reze por minha vida, louvado é Seu santo nome
Imploro, oh, Pai Celestial
Sentou sozinho, acabou-se, e eu peço que rezem por aquele homem

Imploro, oh, Pai Celestial
Proteja meu filho, reze por minha vida, louvado é Seu santo nome
Imploro, oh, Pai Celestial
Sentou sozinho, acabou-se, e eu peço que rezem por aquele homem



Credits
Writer(s): Genival Oliveira Goncalves
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