Égua Tostada

Recebi um chasque faz algum tempo
Vindo das bandas da Encruzilhada
Pois lá teria uma égua tostada
Solta no campo por ser aporreada

E o seu dono, um rico estancieiro
Pra um bom ginete dava uma invernada
Se botasse as garras, subisse pra o lombo
Domasse aquela potra endiabrada

Eu sou ginete neste meu Rio Grande
Não acredito em alma penada
Saltei no lombo do meu pingo baio
E fui à procura da égua afamada

Cheguei na estância, era manhã cedo
O dia ainda estava clareando
Lá no galpão junto ao pai-de-fogo
A peonada estava chimarreando

Pedi licença e me apresentei
E a todos eles, eu já fui saudando
Tomei uns mates e logo indaguei
Pelo patrão, que estava desafiando

Já apresentou-se um senhor sisudo
Não sou gaúcho de andar inventando
Se tens coragem pra o desafio
Eu trago a tostada, vai se preparando

Há muito custo de toda peonada
Aquela tostada se foi pra mangueira
Já fui pealando e botando o buçal
Me abotoando naquela tronqueira

Botei a xerga e agarrei a crina
E já montei no estilo da fronteira
Olhei pro campo e prendi o grito
Podem abrir no mais essa porteira

Saltou berrando, saiu corcoveando
Mas eu não ligo pra gueixa matreira
Essa é mais uma como tantas outras
Se eu não amanso, se vai pra graxeira

No outro dia eu voltei à estância
Fui esbarrando junto do galpão
Boleei a perna na égua tostada
Deixei a rédea caída no chão

Lá da janela, uma prenda faceira
A flor mais linda daquele rincão
Me deu uma olhada e acenou sorrindo
Flor camponesa, filha do patrão

Hoje eu resido em Encruzilhada
Sou capataz da Estância do Pontão
Não ando mais como gato em Tapera
E aquela prenda tem meu coração



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