Cabidela (Ao Vivo)

A gente faz um acordo enquanto povo Numa corda
Em cada lado da corda estão parados o chão
E a gente vai trabalhando pra estancar a sangria
A gente é cobra da cria do mundo, cobra criada
E a cega lá, mal criada, fingindo que não enxerga
Criando vis mecânismo, pra proteger ou trancar
Os cabras que lhe interessa
Não vai ter choro nem reza, nem comida na tua mesa
Amamos nossa beleza não essa gente banguela
A gente apaga a favela, na vala, só vagabundo
Mas vagabundo fodido que na noite vadia
Nessa pátria desigual
Não que usa gravata e assiste pornografia
Na câmera federal, um que a gente mata a pau
E o cidadão bata palma
A gente vende a alma, pro velho diabo chifrudo
Com nossa voz de veludo
Cresceremos feito lodo, nesse nosso grande acordo
Com o supremo, com tudo

Cheiro de sangue, rastro de bala
Não me abala tanto quanto uma família com fome
Pra matar a fome, o homem mata um leão por dia
Por muito menos mata um homem

Tá faltando leão no sertão
Tá faltando leão na favela
Tá faltando leão no subúrbio
O povo tá matando cachorro a grito, gato, cadela

A moela tá roncando, o cano deu o disparo
É bala comendo gente, é gente comendo barro
É barro, é lama preta, é berro de mãe aflita
Será que morreu de morte matada ou morte morrida?

A vida continua na próxima esquina
Carreira de pivete, de cocaína
Pipoco de carabina, foco na carnificina
O medo se dissemina, o analista examina
Lampião e lamparina, morte e vida Severina

Agora eu quero que tu diga
O nome de cinco meninas
Que morreram de inanição
Com a boca no bico do peito murcho, cinzento
Pega um caixote, faz um caixão
E enterra na cova do esquecimento

Treme o calor no asfalto num clima de bang bang
Rastro de bala, cheiro de sangue

Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Do churrasco mal passado de Zé
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Do picado de Dona Tereza
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Da galinha cabidela dela
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Com vinagre cozinhando na panela

Cheiro de sangue, rastro de bala
Não me abala tanto quanto aquele pivete pedindo
Hoje é um pedinte, amanhã um ladino
O menino crescendo, o diabo sorrindo
A polícia matando, traficante vendendo
O menor cheirando cola no calor do meio-dia
Um velho pedindo esmola, tocando na campainha
Aí seu moço, já tem almoço? Algum trocado no bolso?

Pra eu completar a passagem
É que eu tô só de passagem
Olha, eu vim lá do cafundó do Judas
Aí me ajuda, aí me ajuda, aí me ajuda
Tenha misericórdia de um pobre féla da puta

A vida continua na próxima esquina
No ronco do motor, queimando gasolina
Mói o dinheiro, a propina
Verba que não se destina
Confete com serpentina
No chão o sangue germina
Mói o dinheiro, a propina
E a brincadeira termina

Agora eu quero que tu diga
O nome de 20 meninas
Que morreram de inanição
Com a boca no bico do peito murcho, cinzento
Pega um caixote, faz um caixão
Enterra na cova do esquecimento

Treme o calor no asfalto num clima de bang bang
Rastro de bala, cheiro de sangue

Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Do churrasco mal passado de Zé
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Do picado de Dona Tereza
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Da galinha cabidela dela
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Com vinagre cozinhando na panela

A vida continua na próxima esquina



Credits
Writer(s): Jonathas Falcao
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